São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O NovoMuseu

OSCAR NIEMEYER

O Museu do Paraná será inaugurado hoje, e sinto que devo explicá-lo e agradecer aos que dele se ocuparam com tanto entusiasmo.
O primeiro teria que ser, é claro, o governador Jaime Lerner, que teve a idéia genial de aproveitar uma escola por mim projetada 35 anos atrás para, com ela, construir esse grande museu. E boas razões tinha ele para isso. É uma escola com 200 m de comprimento e 30 m de largura. Um pavimento apenas suspenso sobre pilotis. Projeto que já tinha esquecido e que me surpreendeu, quando o vi de novo. Podemos dizer que essa escola, projetada há tanto tempo, é uma obra moderna, moderníssima, com seus vãos variando entre 30 e 60 metros. Apta para se integrar ao grande museu que Lerner imaginava.
Para o projeto a elaborar, eu tinha que levar em conta ainda o fato de essa escola já fazer parte da cidade de Curitiba como uma de suas obras mais representativas. Não deveria, portanto, ficar escondida, o que explica ter projetado o NovoMuseu solto no ar, dois metros acima de sua cobertura.
E lá está o NovoMuseu a surpreender a todos que passam. Uma arquitetura que foge a tudo que viram antes. Toda feita de audácia, de técnica e de fantasia.
Não é assunto meu, mas é bom lembrar que esse museu vai custar apenas R$ 40 milhões, apesar de atender aos programas mais ambiciosos que um museu moderno deve adotar.
É claro que não devo esquecer os que colaboraram nessa obra com extrema dedicação. Mas são tantos que me vejo obrigado a falar, além de Alex Beltrão, que coordenou, desde o princípio, todo o desenvolvimento do museu, daqueles que mais ligados ficaram à arquitetura propriamente dita.
José Carlos Sussekind, responsável pelos cálculos da estrutura, Jair Valera, que desenvolveu todo o meu projeto, Marcelo Ferraz, que se incumbiu dos interiores da antiga escola, criando os programas indispensáveis ao bom funcionamento do museu -inclusive um novo setor para a exibição de esculturas-, e Osvaldo Cintra, que acompanhou a construção até o seu término.


E lá está o NovoMuseu a surpreender a todos que passam. Uma arquitetura que foge a tudo que viram antes


Levando em conta o tempo recorde em que essa obra tão complexa foi realizada, cinco meses apenas, seria lamentável não lembrar a firma Gesbe S.A., que dela se ocupou.
Durante esses cinco meses, acompanhei atentamente, pelo sistema de videoconferência instalado em meu escritório, o correr da construção. O terreno vazio, a estrutura de apoio a subir cada dia mais alto, as longas vigas longitudinais que suportam, por fim, a casca da cobertura -que, para atender pressões do vento, o nosso companheiro José Carlos Sussekind previu.
Durante algum tempo tudo isso ficava escondido pelos apoios provisórios. Lembro que perguntava ao Birunga: "Quando eles vão ser retirados?", aflito por ver a cobertura pronta e a forma arquitetônica definida, com seus balanços laterais de 30 m.
Muitas vezes, visitantes que surgiam em meu escritório demonstravam interesse em conhecer o andamento da obra pelo sistema de videoconferência. E lá estavam o Lerner, o Beltrão ou o Birunga, contentes ao ver como tudo corria bem, ao ver que em breve aqueles apoios metálicos seriam retirados e o teto ficaria aparente, imenso, com 70 metros de comprimento e 15 m de altura, como um grande céu iluminado.
E contavam como seriam as esquadrias, com vidros duplos, tendo entre eles as placas metálicas que desenhei para melhor proteger o salão. Não raro eram estrangeiros, arquitetos de fora que vinham me visitar, encantados com o museu em construção e o apuro da técnica em nosso país.
Nas últimas semanas, meus contatos, por meio do sistema de videoconferência, eram diários. Lembro que indagava quando começariam a colocar o tapete ou terminar a rampa de acesso, o grande espelho d'água, e a resposta vinha direta, tão perfeita era a execução do cronograma estabelecido. Dias atrás, com a obra quase concluída, eu perguntava por detalhes:
"E os móveis, as mesas do bar, quando vão chegar?"
"Depois de amanhã", respondia o Birunga.
Hoje o museu vai ser inaugurado, e esse diálogo vai acabar. O povo de Curitiba irá usufruir dessa obra, que tantas angústias e entusiasmo nos custou.


Oscar Niemeyer, 93, arquiteto, é o criador do projeto do NovoMuseu e um dos criadores de Brasília (DF). Tem obras edificadas nos EUA, Israel, Líbano, Argélia, França, Itália, Alemanha e Portugal, entre outros países.


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