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O teste de Sarkozy
Presidente francês tem boas chances de derrotar grevistas que tentam manter privilégios nas regras de aposentadoria
SE HÁ algo que agremiações
trabalhistas e estudantis
da França não hesitam
em fazer é organizar greves e sair às ruas para arrancar
algo de seus líderes.
Em 1995, uma onda de paralisações fez Jacques Chirac, então
recém-eleito presidente, desistir
de seu plano de reforma das aposentadorias no setor público.
Dois anos depois, caminhoneiros foram às ruas e conseguiram
ser incluídos entre as categorias
com direito a regime especial. No
ano passado, protestos sepultaram uma lei proposta pelo governo que tornaria mais fácil a demissão de recém-contratados.
Embora o placar tenda a favorecer a rua, há ocasiões em que o
governo triunfa sobre os protestos. Agora chegou a vez de Nicolas Sarkozy, que tomou posse como presidente há apenas seis
meses, ser testado.
A greve nos transportes públicos já dura mais de uma semana
e virtualmente paralisou o país.
Provoca prejuízos calculados em
400 milhões por dia. Na segunda-feira, outros setores do funcionalismo engrossaram os protestos com uma paralisação de 24
horas. Estudantes também aderiram ao movimento.
Apesar da força dos sindicatos,
tudo indica que Sarkozy vencerá.
Muitos já o comparam a Margaret Thatcher, que, nos anos 80,
conduziu com mão-de-ferro a repressão a uma greve de mineiros.
Ao vencê-los, quebrou a espinha
do sindicalismo britânico e abriu
caminho para as reformas liberalizantes que ficaram conhecidas
como thatcherismo.
Sarkozy certamente não reclamará se os sindicatos ficarem
mais dóceis. Ele também tem em
sua agenda uma ou duas reformas identificadas como ultraliberais. Só que, ao contrário de
Thatcher, seu objetivo não é o de
aniquilar entidades trabalhistas
nem engajar-se numa segunda
batalha ideológica -venceu a
primeira, ao ser eleito.
A disputa desta feita é bem
mais pragmática. A greve é uma
reação aos planos do governo de
reformar o regime de aposentadorias especiais, que permite a
empregados dos transportes ferroviários, metrô e da área de
energia aposentarem-se após
37,5 anos de contribuição, contra
40 no restante do setor público.
Cerca de 500 mil dos 5,2 milhões
de funcionários públicos da
França e 1 milhão de pensionistas se beneficiam desse regime.
Trata-se de privilégio difícil de
defender. No caso dos maquinistas, é herança dos tempos em que
os trens eram movidos a carvão, o
que provocava sérios danos à
saúde dos condutores. Só que hoje as locomotivas são elétricas.
A maioria dos franceses está
com Sarkozy. No setor privado, o
tempo de contribuição já é de 40
anos (e deve passar a 41). Ao contrário de seus antecessores que
fracassaram em eliminar os privilégios, Sarkozy não sacou a reforma do fundo de sua cartola.
Ele a apresentou claramente na
campanha eleitoral e recebeu a
chancela de 53% dos eleitores.
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