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FERNANDO RODRIGUES
A convocação certa
BRASÍLIA - Um dos maiores erros políticos de FHC foi não ter convocado
o Congresso intermitentemente enquanto tinha força para aprovar reformas constitucionais.
Depois de quebrar o monopólio estatal do petróleo e o das telecomunicações, houve uma sensação de alívio. O tucano falava como se tivesse
operado um milagre. Foi quase isso.
Vistas hoje, essas reformas parecem
insignificantes -mas foram difíceis
de arrancar do Congresso.
Só para lembrar, não faz dez anos
que a classe média declarávamos como um bem (sic) a linha telefônica de
casa. Havia 27 teles estatais e algumas centenas de sinecuras nessas empresas, ocupadas na base da fisiologia. Hoje, é tudo história.
Por essa razão, FHC festejou. E relaxou. Foi só o Congresso parar de
funcionar por um mês que nada de
relevante, nunca mais, foi aprovado
-exceto a emenda da reeleição, mas
aí o buraco era mais embaixo.
Tudo somado, a conclusão do óbvio. O presidente Lula acertará na
mosca se convocar o Congresso em
janeiro. A decisão já foi anunciada,
porém não formalizada.
Custa caro para os cofres públicos?
Custa. A culpa é de quem? De deputados e de senadores que recebem felizes da vida os salários extras nas
convocações. Para evitar o desgaste,
os congressistas deveriam ter coragem e abolir essa anomalia.
A aberração é antiga. Políticos, juízes e outros privilegiados têm mais de
60 dias de férias por ano. Mais do que
o dobro da maioria dos mortais.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, reagiu contra a convocação. É compreensível. Ele defende
uma corporação cuja imagem será
afetada. Os telejornais anunciarão
que os políticos vão embolsar R$ 50
milhões extras para fazer no Congresso o que a maioria dos eleitores
faz pelo salário normal.
Eis aí uma chance para o Congresso
se redimir: incluir na pauta da convocação extraordinária o fim das férias duplas de seus membros.
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