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São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

A convocação certa

BRASÍLIA - Um dos maiores erros políticos de FHC foi não ter convocado o Congresso intermitentemente enquanto tinha força para aprovar reformas constitucionais.
Depois de quebrar o monopólio estatal do petróleo e o das telecomunicações, houve uma sensação de alívio. O tucano falava como se tivesse operado um milagre. Foi quase isso. Vistas hoje, essas reformas parecem insignificantes -mas foram difíceis de arrancar do Congresso.
Só para lembrar, não faz dez anos que a classe média declarávamos como um bem (sic) a linha telefônica de casa. Havia 27 teles estatais e algumas centenas de sinecuras nessas empresas, ocupadas na base da fisiologia. Hoje, é tudo história.
Por essa razão, FHC festejou. E relaxou. Foi só o Congresso parar de funcionar por um mês que nada de relevante, nunca mais, foi aprovado -exceto a emenda da reeleição, mas aí o buraco era mais embaixo.
Tudo somado, a conclusão do óbvio. O presidente Lula acertará na mosca se convocar o Congresso em janeiro. A decisão já foi anunciada, porém não formalizada.
Custa caro para os cofres públicos? Custa. A culpa é de quem? De deputados e de senadores que recebem felizes da vida os salários extras nas convocações. Para evitar o desgaste, os congressistas deveriam ter coragem e abolir essa anomalia.
A aberração é antiga. Políticos, juízes e outros privilegiados têm mais de 60 dias de férias por ano. Mais do que o dobro da maioria dos mortais.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, reagiu contra a convocação. É compreensível. Ele defende uma corporação cuja imagem será afetada. Os telejornais anunciarão que os políticos vão embolsar R$ 50 milhões extras para fazer no Congresso o que a maioria dos eleitores faz pelo salário normal.
Eis aí uma chance para o Congresso se redimir: incluir na pauta da convocação extraordinária o fim das férias duplas de seus membros.



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