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São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Hinos e versos

RIO DE JANEIRO - Volta e meia, cismam de mudar o Hino Nacional e seu equivalente visual, que é a bandeira auriverde que um poeta baiano, antes mesmo de Stefan Zweig nos declarar país do futuro, nela descobriu "as promessas da esperança".
Os dois símbolos já existiam quando nasci, como o Pão de Açúcar e os guarda-chuvas, e embora não goste deles, tolero-os e, sinceramente, aceito-os como legados da condição humana.
Falando sobre hinos, num programa da CBN, disse que o hino de Cuba era a canção popular, "Guantanamera", no que fui contestado por ouvintes que mandaram uma espécie de "Erramos" à produção daquela emissora.
Cuba tem realmente um hino oficial, no estilo gongórico do nosso, que no fundo é um pequeno poema sinfônico, no qual meteram uma letra complicada e que também é discutida de tempos em tempos.
Um bom hino tem de nascer e crescer do povo e no povo. Dois exemplos notáveis: a "Marselhesa", que era uma canção que um regimento de Marselha trouxe para Paris e que foi adotada primeiramente como hino da Revolução e mais tarde da República; e "Cidade Maravilhosa", a marchinha carnavalesca que se tornou hino oficial da cidade do Rio de Janeiro e, como tal, é tocada em paradas militares, em cerimônias religiosas e cívicas, sem nunca deixar de ser cantada nos Carnavais não apenas no Rio, mas no Brasil todo.
"Guantanamera" era vinheta musical de um programa radiofônico, um refrão único que abria espaço para estrofes de ocasião, obra de Joseíto Hernandez. Com a vitória contra o ditador Batista, colocaram na vinheta os versos "sencillos" de José Martí, herói da Independência cubana, uma mistura de Tiradentes e Castro Alves, herói mesmo, no duro, de arma na mão. E um dos maiores poetas das Américas.
A pedido do ouvinte, fizemos a correção no ar. Mas agora, por escrito, volto a insistir no erro: onde quer que eu esteja, a música de Hernandez e Martí continua sendo o hino de Cuba.



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