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CARLOS HEITOR CONY
Hinos e versos
RIO DE JANEIRO - Volta e meia, cismam de mudar o Hino Nacional e
seu equivalente visual, que é a bandeira auriverde que um poeta baiano, antes mesmo de Stefan Zweig nos
declarar país do futuro, nela descobriu "as promessas da esperança".
Os dois símbolos já existiam quando nasci, como o Pão de Açúcar e os
guarda-chuvas, e embora não goste
deles, tolero-os e, sinceramente, aceito-os como legados da condição humana.
Falando sobre hinos, num programa da CBN, disse que o hino de Cuba
era a canção popular, "Guantanamera", no que fui contestado por ouvintes que mandaram uma espécie
de "Erramos" à produção daquela
emissora.
Cuba tem realmente um hino oficial, no estilo gongórico do nosso, que
no fundo é um pequeno poema sinfônico, no qual meteram uma letra
complicada e que também é discutida de tempos em tempos.
Um bom hino tem de nascer e crescer do povo e no povo. Dois exemplos
notáveis: a "Marselhesa", que era
uma canção que um regimento de
Marselha trouxe para Paris e que foi
adotada primeiramente como hino
da Revolução e mais tarde da República; e "Cidade Maravilhosa", a
marchinha carnavalesca que se tornou hino oficial da cidade do Rio de
Janeiro e, como tal, é tocada em paradas militares, em cerimônias religiosas e cívicas, sem nunca deixar de
ser cantada nos Carnavais não apenas no Rio, mas no Brasil todo.
"Guantanamera" era vinheta musical de um programa radiofônico,
um refrão único que abria espaço
para estrofes de ocasião, obra de Joseíto Hernandez. Com a vitória contra o ditador Batista, colocaram na
vinheta os versos "sencillos" de José
Martí, herói da Independência cubana, uma mistura de Tiradentes e
Castro Alves, herói mesmo, no duro,
de arma na mão. E um dos maiores
poetas das Américas.
A pedido do ouvinte, fizemos a correção no ar. Mas agora, por escrito,
volto a insistir no erro: onde quer que
eu esteja, a música de Hernandez e
Martí continua sendo o hino de Cuba.
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