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MARCELO BERABA
Ameaça persistente
RIO DE JANEIRO - Tem razão o ministro Márcio Thomaz Bastos. O ministro José Dirceu tem todo o direito
de duvidar da competência e da boa-fé do Ministério Público e da imprensa e de criticá-los. O problema é
quando generaliza. E foi o que fez na
sexta passada, durante o ato de desagravo ao deputado Greenhalgh.
Sua frase: "Há uma violação persistente e permanente de direitos constitucionais por setores do Ministério
Público e da imprensa brasileira".
Persistente e permanente. Não se trata, portanto, apenas do caso de Santo
André, que tanto incomoda o PT.
O desagrado dos petistas com "setores" do MP e da imprensa não é novidade. O relacionamento é pautado
por atritos desde a posse de Lula. Não
se pode dizer que era esperado, mas é
compreensível.
Uma coisa é um político (ou partido) reconhecer a importância destas
instituições, que têm papéis distintos,
mas que estão igualmente comprometidas com a transparência dos negócios públicos, quando se está na
oposição. Outra é sentir o peso das
cobranças quando se é governo.
Poucos políticos suportam o trabalho investigativo da imprensa. E olha
que, ao contrário do que imagina o
ministro, infelizmente não é um trabalho persistente nem permanente.
Deveria ser, mas não há recursos
nem pessoal para isso. O mesmo pode-se dizer do Ministério Público.
E, por não suportarem as cobranças, volta e meia "setores" do Congresso ameaçam aprovar uma lei de
imprensa coercitiva e inibidora.
Acham que assim conseguirão domesticar os meios de comunicação. O
MP sofre as mesmas ameaças com a
Lei da Mordaça. A novidade agora é
que, além de tentar silenciar os promotores, tenta-se impedir que façam
investigações. Mordaça e algema.
As declarações do ministro tiveram
o mérito de colocar mais uma vez em
pauta a discussão sobre o papel da
imprensa e do Ministério Público em
um regime democrático e a capacidade do governo do PT de conviver
com essas instituições.
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