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ELIANE CANTANHÊDE
Dois em um
BRASÍLIA - Lula decidiu finalmente mexer na Casa Civil. Está desmembrando a articulação política da
coordenação administrativa do governo e baixando a bola do super José
Dirceu. Taí, foi uma sábia decisão.
Pelo formato imaginado, Dirceu
vai se voltar para "dentro", articulando os ministérios das diversas
áreas de governo. E o novo ministro
Aldo Rebelo vai cuidar da parte "externa", ou seja, das relações com o
Congresso, os governadores e o Judiciário. Só há dúvida sobre com quem
ficam as agências como ANT e Aneel.
A palavra de ordem em 2004 tem
de ser "eficácia", quesito em que, para gregos, troianos, flamenguistas e
corintianos, o governo não foi lá muito bem no seu ano de estréia. E quem,
senão Dirceu, teria autoridade para
pautar ministros, cobrar resultados,
impor mudanças?
Quanto à convivência entre os dois,
depende daquele detalhe implícito
em todas as relações, inclusive nas de
poder: personalidade e temperamento. Até onde irá Rebelo? E até onde se
recolherá Dirceu, que agarrou com
unhas, dentes e volúpia o poder que
as urnas deram a Lula e ao PT?
Dirceu articulava com ministros do
STF, com governadores até da oposição, com os colegas de governo e com
congressistas de todo os partidos. Como vivia despachando na Câmara,
lhe perguntaram: "Sobra tempo para
governadores?". Nada modesto, respondeu algo assim: "E os governadores querem falar com mais alguém?
Eles só aceitam falar comigo".
A questão agora é saber se aceitam
falar com Rebelo, se Dirceu admite tirar o time e se o próprio novo ministro vai saber se impor e ocupar o espaço que Lula lhe dá. Até aqui, Aldo
Rebelo agiu como um bom militante
do rígido PC do B: era um cara de fora, cumprindo tarefas discretamente.
A partir de agora, ele está sendo entronizado no círculo de poder.
É bom para Lula, bom para o governo. Mas pode acabar num embate
que é também de estilo e de personalidade. Dirceu, a gente sabe como é.
Rebelo, logo logo a gente vai ficar sabendo. É pegar ou largar. Ou se afirma direto com Lula ou será engolido.
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