São Paulo, quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

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IGOR GIELOW

Tapeação

BRASÍLIA - Enquanto o Fed tentava colocar ordem na casa das finanças mundiais com seu corte de juros, de alcance ainda imprevisível, no Palácio do Planalto um teatrinho se desenvolvia. Depois de ouvir Guido Mantega fazer gracinha com a medida americana, no melhor estilo macunaímico do seu patrão, foi a vez de a toda-poderosa Dilma Rousseff inundar o microfone com um rosário de números e projeções.
Como se sabe, número comporta tudo. Pode até ser que a execução orçamentária melhore e que o PAC deslanche ao longo do resto do governo Lula, viabilizando seu (ou sua) candidato(a) em 2010. Parece improvável, dado o andar da carruagem e o nervosismo do governo nos bastidores, mas enfim.
O que não dá é maquiar cronogramas de obras para apresentá-las ao distinto público como "adequadas".
De repente, atrasos óbvios desaparecem e projetos empacados ganham "selo verde". Daqui a pouco, vão suspendê-los para dizer que não estão atrasados. É tapeação, pura e simples.

 

Em novembro de 1997, a revista britânica "The Economist" publicou em sua capa uma ilustração genial, que mostrava a loucura vivida pelas Bolsas naqueles dias.
No quadrinho, um corretor diz calmamente ao telefone: "Eu tenho uma ação aqui que pode realmente surpreender". Aí todos à sua volta entendem o "surpreender", tradução livre para o inglês "excel", como sendo "sell" (vender). O pânico se instala, com gente berrando "sell" para todo lado, até que um deles desiste e diz: "Isto é loucura. Eu não agüento mais. Adeus". Só que o "adeus", "good-bye", soa para os corretores como um "buy" (comprar). Todos param, pensam um pouco, e o pânico se reinstala, com gritos ensandecidos de "buy!".
Uma década depois, o mundo ficou mas complicado, mas algumas coisas não mudaram.

igielow@folhasp.com.br

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