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ANTONIO DELFIM NETTO
Terrorismo
HÁ UM CERTO terrorismo no
ar, enfatizado principalmente por analistas financeiros. Enfrentamos mesmo alguns problemas preocupantes: 1º)
apesar da boa situação interna, somos parte do mundo, e não é razoável imaginar que estejamos blindados contra as conseqüências de
uma eventual falência geral; 2º) no
último trimestre de 2007, tivemos
(como em todos os países) um aumento dos preços relativos dos
produtos agrícolas; 3º) o governo
não conseguiu demonstrar seu teorema em matéria de oferta de energia, e ainda há sérias incertezas sobre 2009; 4º) há, aqui e ali, sinais de
escassez, que não pode ser resolvida pela importação e, 5º) se a economia mundial entrar em recessão, é provável que a taxa cambial
sofra alguma depreciação, com
efeito sobre a inflação.
Para os financistas, essa complexa situação interna tem uma única
causa: a insistência no "crescimento irresponsável da demanda interna". Isso facilita o diagnóstico dos
alquimistas, que habilmente transformaram com sua "varinha" de
"credibilidade" (e conivência das
famosas agências de análise de risco) papéis "podres" em recomendáveis AAA. A salvação estaria no
"óleo de cobra", eficaz para a cura
de qualquer mal, de unha encravada a câncer linfático. Enquanto o
mundo, preocupado com o nível de
emprego, reduz a sua taxa de juros,
devemos aumentar a nossa! E aumentá-la já, preventivamente, antes que por alguma desgraça a inflação melhore... A lista das dificuldades tem algum fundamento, mas
sua radicalização não.
Os bancos centrais não controlaram os "aperfeiçoamentos" do sistema financeiro que construíram a
fantástica pirâmide de papéis que
hoje nos esmaga. Agora tentam
queimá-la lentamente, sem solavancos, com a ajuda da política fiscal expansionista. A probabilidade
de recessão nos EUA está crescendo, mas tudo indica que a solução
será menos flutuação do PIB e
maior inflação "salvadora" (da dívida pública e dos devedores). Já
não se fazem mais Paul Volckers...
O problema da oferta de energia
no Brasil será acomodado com algum aumento de preço, com maior
cooperação entre o setor privado e
o governo, que deve levar a sério
um programa de racionalização do
consumo. O fato de haver escassez
de produtos em setores que não
podem ser supridos pela importação é apenas um estímulo ao investimento, desde que não se aborte a
demanda futura. O salário real tem
crescido sem pressionar os custos
devido ao aumento da produtividade, o que inibe a transformação de
preços relativos em inflação. Com
relação a esta, se há alguma coisa
que aprendemos é que ela depende
fundamentalmente das "expectativas", que estão até agora bem ancoradas. Todo esforço terrorista é para tentar levantar esta âncora...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO 0escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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