São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 1999

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A nova capital

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A modernidade de FHC tem a idade dos tempos em que os homens moravam em cavernas. Ele submeteu o país não ao mercado internacional, mas ao capital -que é coisa diferente. E antiga: vem dos primórdios da sociedade humana. A dominação que os impérios da Antiguidade exerciam sobre o resto do mundo tinha como eixo apenas o capital: os exércitos (de Alexandre, de Dario ou de César) eram somente instrumentos. Esse tempo passou.
É aí que entra o mercado nos dias de hoje: ele substitui os exércitos: invade, conquista e mantém as colônias. Era difícil para as nações pobres, muitas vezes sem um território específico, dispor de recursos para manter forças capazes de resistir aos poderosos exércitos desses conquistadores.
As colônias mais submissas ficavam com o direito de ter um rei, uma casta dominante, uma religião, um calendário de festas e outras quinquilharias locais. Mas o núcleo da nação era controlado de fora: não era mais nação, era província.
Sempre achei idiota a modernidade apregoada pelo atual governo. Não é o desenho da lataria de um automóvel ou um computador com maior memória que criam a modernidade. O mundo moderno começou com a rebeldia de Lutero, que se insurgiu contra o domínio de Roma. Viveu outro episódio importante com o fim das colônias, após a Segunda Guerra Mundial.
Eu imaginava que era apenas cinismo da parte de FHC quando ele falava em modernidade. Hoje, acredito que seja uma cultura deficiente a serviço de uma vaidade tola em se manter num poder que nada manda, a não ser na hora de decidir quem será contínuo de quem.
A ida às pressas de Malan e Chico Lopes ao FMI, no fim de expediente da semana passada, é tipicamente uma tarefa de "office-boy", qualificado apenas por ser bilíngue. Entre outras coisas, significa que o capital e a capital do Brasil não estão mais em Brasília, mas em Washington, DC.



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