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A nova capital
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - A modernidade de
FHC tem a idade dos tempos em que
os homens moravam em cavernas. Ele
submeteu o país não ao mercado internacional, mas ao capital -que é
coisa diferente. E antiga: vem dos primórdios da sociedade humana. A dominação que os impérios da Antiguidade exerciam sobre o resto do mundo
tinha como eixo apenas o capital: os
exércitos (de Alexandre, de Dario ou
de César) eram somente instrumentos.
Esse tempo passou.
É aí que entra o mercado nos dias de
hoje: ele substitui os exércitos: invade,
conquista e mantém as colônias. Era
difícil para as nações pobres, muitas
vezes sem um território específico, dispor de recursos para manter forças capazes de resistir aos poderosos exércitos desses conquistadores.
As colônias mais submissas ficavam
com o direito de ter um rei, uma casta
dominante, uma religião, um calendário de festas e outras quinquilharias
locais. Mas o núcleo da nação era controlado de fora: não era mais nação,
era província.
Sempre achei idiota a modernidade
apregoada pelo atual governo. Não é o
desenho da lataria de um automóvel
ou um computador com maior memória que criam a modernidade. O mundo moderno começou com a rebeldia
de Lutero, que se insurgiu contra o domínio de Roma. Viveu outro episódio
importante com o fim das colônias,
após a Segunda Guerra Mundial.
Eu imaginava que era apenas cinismo da parte de FHC quando ele falava
em modernidade. Hoje, acredito que
seja uma cultura deficiente a serviço
de uma vaidade tola em se manter
num poder que nada manda, a não
ser na hora de decidir quem será contínuo de quem.
A ida às pressas de Malan e Chico
Lopes ao FMI, no fim de expediente da
semana passada, é tipicamente uma
tarefa de "office-boy", qualificado
apenas por ser bilíngue. Entre outras
coisas, significa que o capital e a capital do Brasil não estão mais em Brasília, mas em Washington, DC.
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