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TENDÊNCIAS/DEBATES
Clima: dilemas e oportunidades para o Brasil
OSWALDO OLIVA NETO
De que forma o aquecimento global e as alterações da temperatura do planeta atingem o Brasil?
AS AMEAÇAS ao planeta em virtude do aquecimento global
ganharam enorme visibilidade
com a divulgação do relatório do
IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). De que
forma o aquecimento global e as alterações da temperatura do planeta
atingem o Brasil? É o que busca responder o estudo "Mudança do Clima", produzido pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da Presidência da República.
Além de detectarem riscos e oportunidades para o Brasil, os especialistas foram unânimes em apontar três
recomendações: elaborar um mapa
nacional de vulnerabilidade às mudanças climáticas -e dos riscos que
elas oferecem-, aprofundar o conhecimento científico sobre o tema e difundir esse assunto para a sociedade
brasileira.
Ao avaliar o problema, o corpo de
26 especialistas mobilizados para o
estudo do NAE evita previsões apocalípticas e foge do enfoque limitado aos
prejuízos e sacrifícios para o Brasil.
A agenda ambiental, apesar de contestações, estabelece saudável condicionante para o desenvolvimento dos
países: progredir sem ameaçar a vida.
Independentemente do estágio
econômico, todos os países precisam
acertar os passos com o equilíbrio da
natureza. Crescer dentro de um novo
modelo ambiental significa um estimulante desafio para o mundo.
No caso brasileiro, dadas as vantagens competitivas na oferta de combustíveis alternativos, o momento revela pelo menos duas janelas de oportunidades: o potencial do mercado de
carbono e a produção de energia "limpa" e renovável.
A primeira oportunidade diz respeito ao mercado de créditos de emissões de carbono, que poderá chegar a
US$ 10 bilhões por ano em 2010 e no
qual o Brasil poderá ter uma participação de 10%, segundo estimativas do
Banco Mundial reproduzidas no documento. Em outras palavras, o Brasil
poderá ser um dos países líderes em
Mecanismos de Desenvolvimento
Limpo (MDL).
A segunda oportunidade do Brasil,
reconhecida mundialmente, é a produção de biocombustíveis. O país tem
capacidade, de plantio e tecnológica,
para assumir destacada posição no
mundo.
Para garantir esses mercados promissores -de créditos de carbono e
de exportação de biocombustíveis-,
o Brasil deve priorizar a agenda ambiental de desenvolvimento limpo e
sustentável e, ao mesmo tempo, continuar a fazer a "tarefa de casa" (preservação das florestas, controle do
desmatamento etc.).
Ao abordar os riscos para o Brasil, o
estudo ressalta a necessidade de novos avanços da ciência para podermos
detectar, de forma mais exata, os contornos dos impactos causados pelo
aquecimento.
Com tal alerta, os especialistas de
diferentes áreas detectaram uma série de possíveis ocorrências: aumento
da incidência de doenças como malária, cólera, dengue, leptospirose e
diarréia após eventos relacionados a
extremos climáticos; modificação na
transmissão e distribuição geográfica
das doenças infecciosas; impactos na
agricultura, com a alteração da fertilidade do solo e incidência de doenças
influenciadas pela temperatura e pela
umidade nas plantas; aumento na freqüência e extensão de incêndios, o
que gera perdas florestais; erosão costeira; maior vulnerabilidade ou extinção de espécies ameaçadas e diminuição da qualidade dos recursos hídricos, entre outros (versão integral do
estudo em www.nae.gov.br).
Caso o aquecimento seja irreversível, o estudo recomenda políticas para as populações brasileiras em risco,
mas reafirma a relevância do princípio de "responsabilidades comuns".
Cabe aos países industrializados,
maiores emissores históricos de gases de efeito estufa, assumir medidas
efetivas de controle e prevenção do
aquecimento global. Vale alertar que
há implicações econômicas e políticas quando os países industrializados
responsabilizam o Brasil pelo aquecimento global, em decorrência dos
desmatamentos e queimadas.
Sem fechar os olhos para o problema (o país obteve avanços nessa
questão, como comprovam os últimos levantamentos do Ministério do
Meio Ambiente) e dentro do conceito
de responsabilidade compartilhada,
não é possível aceitar que países em
desenvolvimento assumam uma parcela -indevida- do ônus do combate
ao efeito estufa.
Deter o aquecimento do planeta
significa olhar para o futuro ciente de
que as incertezas freqüentes do amanhã exigem ações hoje.
OSWALDO OLIVA NETO, pós-graduado em planejamento estratégico, é chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
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