São Paulo, terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Investimentos e expansão do crédito

ANTONIO QUINTELLA e NILSON TEIXEIRA


Há muito a ser construído no Brasil e são inúmeros os setores que apresentam oportunidades atraentes de investimento

DEPOIS DE várias décadas de crescimento baixo e muito volátil, o Brasil acelerou o ritmo nos últimos anos. Nesse período, o país conquistou maior estabilidade macroeconômica e tornou-se mais previsível. Dadas as possibilidades que se desenham, é difícil não estar otimista. Nos próximos anos, o país será capaz de crescer em torno de 5% ao ano de forma sustentável.
Nesse ambiente, há uma revolução em andamento no sistema de crédito no Brasil. O crédito bancário cresceu de 25% do PIB em 2004 para 47% do PIB em 2009, com os prazos de financiamento para pessoas físicas aumentando de 300 para 500 dias no período. Parte da expansão deveu-se à universalização do crédito no país, com os financiamentos oferecidos por empresas de varejo e do setor imobiliário sendo incorporados gradualmente à carteira de crédito dos bancos.
Os intermediários financeiros vêm ampliando a distribuição de inovações, tais como os fundos imobiliários e de direitos creditórios, que contribuem para expandir o crédito e impulsionar o crescimento econômico.
As condições dos financiamentos ainda precisam melhorar para sustentar a ampliação dos investimentos, que tendem a ser disseminados.
Isso exigirá maior integração e coordenação entre os setores público e privado, com participação crescente deste último. Além disso, é desejável haver aumento da concorrência, surgimento de empresas que ocupem nichos específicos no mercado de crédito e redução dos custos das operações, inclusive com a desoneração tributária sobre a intermediação financeira.
Há muito a ser construído no Brasil e são inúmeros os setores que apresentam oportunidades atraentes de investimento.
As deficiências na infraestrutura são reflexo de uma economia que até há pouco tempo era muito suscetível a choques. Ademais, o capital era escasso e caro e, portanto, os retornos dos investimentos que exigem prazos longos de maturação eram pouco atrativos. Esses entraves têm sido enfrentados nos últimos anos.
O aumento dos investimentos em infraestrutura é crucial para acelerar o crescimento. Igualmente, a vantagem comparativa do país nos setores de commodities sugere que os investimentos nessas áreas continuarão elevados. Em especial, o setor de óleo e gás receberá o fluxo de investimentos mais elevado da história brasileira. Essa dinâmica exigirá não só um aporte elevado por parte de instituições financeiras públicas como também de estruturas privadas, domésticas e externas, para financiar a ampliação dos investimentos.
Mas as oportunidades de investimento não param por aí. O mercado imobiliário, por exemplo, tem se beneficiado do aumento do poder aquisitivo e das importantes alterações da legislação. Os financiamentos imobiliários, equivalentes a apenas 3% do PIB em 2009, crescerão bastante. Em um ambiente de juros inferiores aos atuais e de custos de construção mais reduzidos, as condições de financiamento serão mais favoráveis e menos dependentes dos recursos das aplicações em caderneta de poupança.
Além disso, o aumento do rendimento do trabalho e a melhora da distribuição de renda nos últimos anos têm incluído uma parte crescente da sociedade no mercado consumidor.
Diversos segmentos do setor de serviços, tais como os de educação, turismo, restaurantes, planos de saúde e comércio varejista, também terão desempenho ímpar na próxima década.
A solidez do sistema financeiro brasileiro e a rápida recuperação do país após a crise reforçam a percepção de que os financiamentos privados de longo prazo aumentarão bastante nos próximos anos, impulsionando o crescimento econômico.
Embora abrangente, essa expansão tende a ser heterogênea, com vários setores crescendo bem acima da média. Esses setores estarão associados, provavelmente, à construção de uma infraestrutura compatível com o padrão de crescimento atual ou à expansão da oferta de bens e, principalmente, dos serviços para atender a maior demanda de consumidores de menor, porém crescente, poder aquisitivo.
Esse cenário favorável requer a manutenção de políticas econômicas austeras e responsáveis, o que consolidará um dos avanços dos últimos anos, o da expansão e universalização do crédito.


ANTONIO QUINTELLA é diretor-superintendente do Banco de Investimentos Credit Suisse.
NILSON TEIXEIRA é economista-chefe do Banco de Investimentos Credit Suisse.

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