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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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FIM DA GLOBALIZAÇÃO

A principal vítima econômica da ofensiva norte-americana no Iraque pode ser a globalização. Para os mais pessimistas, o próprio fracasso da globalização teria sido a causa dessa ação militar.
Causa ou efeito, a crise da globalização agrava-se tanto política como economicamente. Na política mundial, as Nações Unidas saem fortemente abaladas. A contrapartida econômica da derrota do multilateralismo é o aprofundamento das tensões existentes entre os principais países industrializados.
No curtíssimo prazo, os indícios de que a guerra será rápida provocaram reações otimistas nos principais mercados internacionais. Na última sexta-feira, os mercados emitiam sinais de revigoramento a cada quilômetro quadrado conquistado pelas forças dos EUA.
O petróleo, cuja cotação chegou a beirar os US$ 40 por barril, teve uma queda surpreendentemente rápida, aproximando-se dos US$ 25.
Segundo pesquisa on line do "Wall Street Journal", 85% dos seus leitores acreditam que a ocupação do Iraque não vá exigir sequer um mês. Só 3% dos leitores acreditam que os EUA jamais controlarão o Iraque.
A questão é mais sutil do que parece, pois vai além da ocupação militar.
Os franceses, por exemplo, já no segundo dia da guerra repudiaram o controle dos EUA sobre a reconstrução do Iraque. Mas a divisão dos despojos de guerra não é a única frente de conflito entre as maiores potências industrializadas do planeta.
Na esteira da ruptura do pacto transatlântico, os europeus dificilmente facilitarão as negociações comerciais multilaterais. Para o Brasil, a perspectiva de liberalização de mercados agrícolas tanto nos EUA quanto na UE torna-se ainda mais remota.
O cenário mais provável, passada a guerra, é o de ganharem evidência as dificuldades globais de retomada do crescimento econômico.
Os preços do petróleo subiram e caíram muito. Mas dificilmente a energia mais barata será uma fonte de dinamismo para um sistema global fraturado em que Japão, UE e EUA patinham rumo à recessão.
Economistas alertam para a ilusão, forte na cúpula norte-americana, de relançar a economia com base na guerra e no controle das principais fontes de energia do planeta.
Mas a principal dificuldade econômica talvez resulte de um erro de percepção dessa elite militarista.
Ao combater Estados como o Afeganistão e o Iraque, a máquina de guerra norte-americana estaria tentando inutilmente combater um inimigo que, a rigor, já não opera com base em Estados nacionais.
A perspectiva hoje realista de que o terrorismo internacional vá continuar tão ou mais ativo, apesar da ocupação norte-americana do Oriente Médio, projeta uma sombra de insegurança que poderá deprimir ainda por muito tempo o sentimento de consumidores, investidores e mercados financeiros internacionais.


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