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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

11 de setembro e o inferno americano

Para descrever os pavorosos acontecimentos do dia 11 de setembro de 2001, a revista "The Economist" fez uma capa, na época, com os seguintes dizeres: "O dia em que o mundo mudou".
Guardei a publicação com o pressentimento de que, realmente, o mundo não seria mais o mesmo. No dia do terror, o presidente George W. Bush declarou: "O ataque ao Pentágono e ao World Trade Center foi um ato de guerra e será tratado como tal". Dali para a frente, ninguém mais teve sossego.
O dia 11 de setembro de 2001 será lembrado para sempre. Quanto mais o tempo passa, maior é a indignação dos americanos, que, como o resto do mundo, assistiram pela televisão à destruição dos seus principais símbolos e de milhares de inocentes, realizada com aviões comerciais do próprio país. Uma ousadia impensável!
Quanto mais o tempo passa, maior é também a perplexidade dos EUA, que, apesar de todo o seu poderio bélico, não conseguiram capturar os autores intelectuais do plano sinistro.
O sentimento de perda se associou ao sentimento de impotência. É como se os franceses tivessem testemunhado pela televisão o desmonte simultâneo do museu do Louvre e da Torre Eiffel e a matança de milhares de vidas sem nada poder fazer e sem conhecer o autor de tamanha maldade.
O ato não tem precedente histórico. Jamais uma agressão tão devastadora ficou anônima por tanto tempo. A paz tornou-se uma palavra vazia, porque os americanos ficaram sem condições de sentir a paz interior.
Paz não é ausência de guerra. É sentimento de segurança pessoal. Aquele ato, adicionado a razões de ordem econômica, fez o presidente Bush partir para uma agressão.
O propósito de toda guerra é restaurar a paz. Será que isso vai ocorrer?
As guerras são deflagradas por defesa contra uma agressão praticada ou a ser praticada. No caso em tela, uma grave agressão foi consumada, mas seus autores não foram identificados. Por sua vez, a futura agressão, que é tida como certa, se choca com a identificação das armas do inimigo.
A lógica daria pleno apoio a um ato de autodefesa em relação ao terror de 11 de setembro, que entretanto não pôde ser realizado devido ao anonimato dos autores. E agora?
A mesma lógica dará apoio à agressão em curso se Bush provar o perigo anunciado. Essa é a grande questão. Ele terá de encontrar no Iraque o que os inspetores da ONU não encontraram.
Se encontrar, as críticas contra ele serão amenizadas, e a ONU será desmoralizada. Se não encontrar, ou se inventar motivos, estaremos diante de um cenário terrível -o de uma guerra motivada por raiva descontrolada ou por motivação econômica injustificada, que será condenada por toda a humanidade. Realmente, o mundo mudou depois de 11 de setembro de 2001.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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