UOL




São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

Tiro ao alvo

RIO DE JANEIRO - Autoridades do governo norte-americano insistem em avisar que, na atual guerra contra o Iraque, o mundo verá coisas que nunca viu em matéria de eficiência e de força. O estágio tecnológico dos Estados Unidos, acredito, tem condições de promover um show de destruição e de morte apocalíptico, no estilo hollywoodiano do "você jamais verá um filme como esse".
Um dos lances mais espetaculares com que Bush contava para encenar seu espetáculo seria realmente espetacular -gosto dos pleonasmos quando me parecem necessários. No primeiro minuto da guerra, praticamente no primeiro míssil a ser disparado, tudo estaria terminado com a morte de Saddam Hussein.
A CIA, infiltrada na guarda pessoal do ditador iraquiano, daria o sinal para o disparo na certeza de que Saddam estaria naquele local e àquela hora.
A façanha seria possível. É evidente que os agentes secretos, duplos ou não, rastreiam a intimidade do ditador. A quilômetros de distância, com visibilidade zero, de um navio fundeado no golfo Pérsico, Saddam poderá ser alvejado facilmente, como uma xícara indefesa na barraquinha de tiro ao alvo de um parque de diversões.
Seria um show, realmente. Dois minutos depois de declarar que a guerra começara, Bush comunicaria que a guerra acabara, uma vez atingido o objetivo único do atual conflito: a eliminação física de um ditador.
Alguma coisa deu errado -ou na informação da CIA, ou na pontaria dos mísseis. Lembrei aquela imagem usada pelo ex-presidente Collor, que garantia acabar com o tigre da inflação com um só golpe. Todos sabemos o que aconteceu.
Bush tem um arsenal maior e mais variado para acabar com o seu tigre de plantão. Bem verdade que não conseguiu acabar com Bin Laden, um tigre bem mais perigoso para a merecida tranquilidade dos americanos tranquilos -e aí está mais um pleonasmo.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O Brasil e a guerra
Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: 11 de setembro e o inferno americano
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.