São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

A falta que a CPI faz

BRASÍLIA - Há "fatos determinados" que justifiquem a CPI do Apagão Aéreo? Aos borbotões: o maior acidente da aviação brasileira, o sistema de tráfego aéreo, o treinamento e as condições de trabalho dos controladores, o despreparo das companhias aéreas, o aumento da demanda, a novidade das panes sucessivas e até o surpreendente blecaute no aeroporto da capital da República. É pouco?
Apesar disso, tudo o que governo e oposição discutiram aos berros durante as disputas em torno da CPI do Apagão foi.. a Infraero, que cuida de infra-estrutura de aeroportos e praticamente não tem nada a ver com tráfego aéreo. Uma coisa é apurar desvio, ou suspeita de desvio de dinheiro público em obras físicas nos aeroportos. Outra, bem diferente e até mais grave, é investigar o aparente colapso do sistema aéreo brasileiro, que parecia tão eficiente. O "apagão" é isso, não é obra da Infraero.
Ou seja: a CPI foi mal conduzida. Com uma oposição como essa, Lula nem precisaria dar cinco ministérios ao PMDB e papear com Collor. O apagão se arrasta há meses, a CPI não sai, e Lula continua alardeando aos quatro ventos que "nunca antes neste país" se viu governo melhor.
Mas, com ou sem CPI, com ou sem oposição, o governo terá que dar resposta a perguntas que não querem calar sobre as panes que atingem o Cindacta-1, de Brasília, e o Cindacta-2, de Curitiba, afetando milhares de passageiros.
Ou há imperícia, ou os equipamentos estão podres, ou foi sabotagem -que é improvável, mas não impossível. Alguma coisa ocorre e não está clara.
Quanto à Infraero: a oposição saiu do eixo e perdeu tempo, pois as investigações já ganharam dinâmica própria em auditorias internas, no TCU, no Ministério Público. Com ou sem CPI, as obras dos aeroportos já estão sendo mais do que reviradas. E, sem CPI, o apagão aéreo não só fica como tende a virar rotina. Se é que já não virou.


elianec@uol.com.br

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