São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2007

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NELSON MOTTA

Pagando para não ver

RIO DE JANEIRO - Ninguém acredita mais nessa conversa mole de que TVs estatais não precisam ser vistas, e sim dar cidadania. As pesquisas mostram que, em quase todos horários, a programação das emissoras públicas e estatais dá traço, ninguém quer ver, nem de graça. Qual o sentido de dar cultura, informação, educação, verdade, beleza, tudo de bom, para 5.000 pessoas à custa dos outros 200 milhões?
Assim, é uma elite da elite desfrutando de um privilégio pago com os impostos de todos, os bacanas se deleitando com óperas e balés, enquanto o resto dos contribuintes está ligado na Globo, na Record e no SBT. Programas como "Roda Viva", "Sem Censura" e "Castelo Rá-tim-bum" são exceções que têm público, prestígio e anunciantes e poderiam estar em qualquer canal comercial.
Como em qualquer programa governamental, é obrigatório que se estabeleça e justifique a relação entre o dinheiro investido, o número de beneficiários e a que segmentos sociais pertencem: é injusto produzir "cidadania" para a classe A com dinheiro da B, C e D. De que vale uma TV que ninguém, ou quase, quer ver? Claro, o problema é o público, mas, como não se pode trocar o público, é melhor mudar de programação. Ou de mídia.
Fariam mais e melhor pela cidadania investindo os R$ 500 milhões da nova rede estatal em assinaturas da Net/Sky para os carentes. Em vez de mais um canal chato, lhes dariam cem novos, com cultura, educação, informação, esporte, diversão e arte para milhões de famílias: o "Bolsa-TV"!
Ou será que entre os melhores canais de TV do Brasil e do mundo ainda falta algum conteúdo que só o nosso Estado pode oferecer, com sua inteligência, seu bom gosto e suas boas intenções?
Fazer uma TV é fácil, o difícil é ela ser vista.


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