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NELSON MOTTA
Pagando para não ver
RIO DE JANEIRO - Ninguém
acredita mais nessa conversa mole
de que TVs estatais não precisam
ser vistas, e sim dar cidadania. As
pesquisas mostram que, em quase
todos horários, a programação das
emissoras públicas e estatais dá traço, ninguém quer ver, nem de graça.
Qual o sentido de dar cultura, informação, educação, verdade, beleza,
tudo de bom, para 5.000 pessoas à
custa dos outros 200 milhões?
Assim, é uma elite da elite desfrutando de um privilégio pago com os
impostos de todos, os bacanas se
deleitando com óperas e balés, enquanto o resto dos contribuintes
está ligado na Globo, na Record e no
SBT. Programas como "Roda Viva",
"Sem Censura" e "Castelo Rá-tim-bum" são exceções que têm público, prestígio e anunciantes e poderiam estar em qualquer canal comercial.
Como em qualquer programa governamental, é obrigatório que se
estabeleça e justifique a relação entre o dinheiro investido, o número
de beneficiários e a que segmentos
sociais pertencem: é injusto produzir "cidadania" para a classe A com
dinheiro da B, C e D. De que vale
uma TV que ninguém, ou quase,
quer ver? Claro, o problema é o público, mas, como não se pode trocar
o público, é melhor mudar de programação. Ou de mídia.
Fariam mais e melhor pela cidadania investindo os R$ 500 milhões
da nova rede estatal em assinaturas
da Net/Sky para os carentes. Em
vez de mais um canal chato, lhes dariam cem novos, com cultura, educação, informação, esporte, diversão e arte para milhões de famílias:
o "Bolsa-TV"!
Ou será que entre os melhores canais de TV do Brasil e do mundo
ainda falta algum conteúdo que só o
nosso Estado pode oferecer, com
sua inteligência, seu bom gosto e
suas boas intenções?
Fazer uma TV é fácil, o difícil é ela
ser vista.
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