São Paulo, segunda-feira, 23 de março de 2009

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Privilégio do dólar

Apesar de crise aguda, economia americana ainda conta com relativa proteção contra ataques especulativos à moeda

UM SURTO de desvalorização do dólar no mundo, acentuado na semana passada, levou alguns analistas a cogitar de que a moeda norte-americana poderia sofrer um ataque especulativo -um processo devastador e bastante conhecido no restante do planeta em momentos de crise, mas incomum nos EUA.
Há elementos, contudo, para acreditar que a economia americana continua bastante protegida, pelo menos contra esse tipo de manifestação de descrédito.
O déficit nas transações correntes -todas as operações de compra e venda de bens e serviços com o exterior- dos EUA somou US$ 673,3 bilhões em 2008, o equivalente a 4,7% do PIB.
Financiaram esses débitos com o restante do mundo por meio dos capitais que estrangeiros depositaram nos EUA.
A despeito da crise aguda no sistema financeiro americano, os bancos centrais e investidores privados estrangeiros compraram US$ 815,7 bilhões em títulos do Tesouro e das agências americanas. Corporações multinacionais, entre elas algumas brasileiras, lá investiram US$ 325,3 bilhões, gastos por exemplo na aquisição de empresas americanas, desvalorizadas com a crise.
Tamanho apetite de estrangeiros por negócios em solo americano evidencia que os EUA continuam sendo considerados o centro do sistema econômico global, a principal fonte de demanda e de reciclagem dos fluxos financeiros.
Por isso, à diferença de praticamente todas as outras nações, os EUA têm poucas restrições de financiamento externo. Isso decorre do fato de a moeda americana -o dólar- ainda ser a mais desejada do mundo.
A taxa de juros da dívida externa americana (implícita nos títulos do governo detidos pelos estrangeiros) é determinada pelo Fed, o banco central dos EUA. Assim, a desvalorização do dólar desvaloriza, ao mesmo tempo, as aplicações dos credores.
Um país comum, que apresente reiterados déficits externos, em algum momento enfrenta dificuldades para financiar suas operações em moeda estrangeira. Os investidores externos cortam as linhas de crédito e ameaçam fugas de capital, temendo a incapacidade de pagamento dos compromissos assumidos.
A moeda doméstica sofre acentuada desvalorização, e o país deve ampliar suas exportações para gerar saldos em moeda estrangeira e honrar a dívida externa.
Isso ainda não ocorre com os Estados Unidos. Eles podem dar-se ao luxo, como anunciaram na semana passada, de emitir dólares para pagar suas importações e sua dívida externa.


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