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Privilégio do dólar
Apesar de crise aguda, economia americana
ainda conta com relativa proteção contra ataques especulativos à moeda
UM SURTO de desvalorização do dólar no
mundo, acentuado na
semana passada, levou
alguns analistas a cogitar de que
a moeda norte-americana poderia sofrer um ataque especulativo -um processo devastador e
bastante conhecido no restante
do planeta em momentos de crise, mas incomum nos EUA.
Há elementos, contudo, para
acreditar que a economia americana continua bastante protegida, pelo menos contra esse tipo
de manifestação de descrédito.
O déficit nas transações correntes -todas as operações de
compra e venda de bens e serviços com o exterior- dos EUA somou US$ 673,3 bilhões em 2008,
o equivalente a 4,7% do PIB.
Financiaram esses débitos
com o restante do mundo por
meio dos capitais que estrangeiros depositaram nos EUA.
A despeito da crise aguda no
sistema financeiro americano, os
bancos centrais e investidores
privados estrangeiros compraram US$ 815,7 bilhões em títulos
do Tesouro e das agências americanas. Corporações multinacionais, entre elas algumas brasileiras, lá investiram US$ 325,3 bilhões, gastos por exemplo na
aquisição de empresas americanas, desvalorizadas com a crise.
Tamanho apetite de estrangeiros por negócios em solo americano evidencia que os EUA continuam sendo considerados o
centro do sistema econômico
global, a principal fonte de demanda e de reciclagem dos fluxos financeiros.
Por isso, à diferença de praticamente todas as outras nações, os
EUA têm poucas restrições de financiamento externo. Isso decorre do fato de a moeda americana -o dólar- ainda ser a mais
desejada do mundo.
A taxa de juros da dívida externa americana (implícita nos títulos do governo detidos pelos estrangeiros) é determinada pelo
Fed, o banco central dos EUA.
Assim, a desvalorização do dólar
desvaloriza, ao mesmo tempo, as
aplicações dos credores.
Um país comum, que apresente reiterados déficits externos,
em algum momento enfrenta dificuldades para financiar suas
operações em moeda estrangeira. Os investidores externos cortam as linhas de crédito e ameaçam fugas de capital, temendo a
incapacidade de pagamento dos
compromissos assumidos.
A moeda doméstica sofre acentuada desvalorização, e o país deve ampliar suas exportações para
gerar saldos em moeda estrangeira e honrar a dívida externa.
Isso ainda não ocorre com os
Estados Unidos. Eles podem
dar-se ao luxo, como anunciaram na semana passada, de emitir dólares para pagar suas importações e sua dívida externa.
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