|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Ser ou parecer legal
RIO DE JANEIRO - Quem assistiu a "O Poderoso Chefão", vol. 1, e
se lembra do personagem de Robert Duvall, sabe como essas coisas
funcionam. Chega um momento
em que o crime precisa formar
agentes "caretas" e com fachada legal para se expandir. No caso, Duvall interpreta o filho adotivo da família Corleone, encarregado de defendê-la como advogado.
O crime não pode depender de
profissionais recrutados fora -é o
que, pelo visto, também já descobriram por aqui. Por isso, a cada ano,
haverá mais jovens nascidos no tráfico disputando vagas nas faculdades de Direito e, em futuro breve,
nos tribunais, como advogados, juízes e desembargadores. Já não basta ao ilegal parecer legal. Tem de ser
legal também.
Da mesma forma, o tráfico descobriu que sai mais em conta formar
os seus próprios parlamentares do
que comprar políticos no varejo para fazê-los passar os projetos e leis
de seu interesse. Não que os políticos deixarão de ser comprados -a
oferta se renova a cada eleição. Mas,
num mundo ideal para o crime, nada como ter os seus próprios quadros em funções-chave.
Isso implica também o tráfico
formar administradores, capazes
de criar firmas insuspeitas, de imiscuir-se nas corporações e de trabalhar em estreita intimidade com os
diversos níveis de governo, quem
sabe participando deles -atividades essenciais para a lavagem dos
bilhões gerados pela droga.
Com toda essa profissionalização, o tráfico ainda continuará a
depender do homem que vai buscar
a carga no mar ou na fronteira, do
chefe da boca-de-fumo e do traficante pé-de-chinelo, sem contar os
"soldados" que defendem o morro
ou a periferia. Mas, não demora
muito, os mais insignes profissionais da droga deixarão para trás
na escala social os usuários de seus
produtos.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Um possível avanço Próximo Texto: Marina Silva: Faça o que eu digo Índice
|