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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lições de verão
SÃO PAULO - No último sábado,
acabou o verão -e que verão. Choveu, de fato, uma estupidez sobre
São Paulo nos últimos meses. Há
medições atestando que foi o janeiro mais chuvoso da história. Outras
dizem que o volume de água ficou
um tantinho abaixo do registrado
no longínquo janeiro de 1947.
Se os especialistas ainda divergem, uma coisa parece certa: o verão de 2009-2010 colocou a cidade
frente a frente com sua inviabilidade. Vivemos, com intensidade talvez inédita, a experiência do colapso urbano. Foram dias de muitos
transtornos, sucessivos traumas,
vários deles previstos e até aguardados, fazendo jus ao velho clichê da
crônica da tragédia anunciada.
Se são Pedro caprichou, o poder
público se revelou especialmente
relapso. Ainda no dia 10 de fevereiro, depois de ver a cidade castigada
durante quase dois meses, o prefeito Gilberto Kassab encontrava um
jeito para chamar de "ridícula" e
"vergonhosa" a sujeira de um piscinão que vistoriava de helicóptero.
Na mesma época desse acesso
tardio de indignação oficial, centenas de moradores do Jardim Pantanal, na zona leste, vivendo havia
mais de 60 dias sob as águas, protestavam em frente à prefeitura.
Como estarão hoje esses coitados?
Já no início de janeiro, a Folha
mostrava que, dos 180 endereços
que haviam alagado na capital desde dezembro, quase 40% eram novos ou não constavam das áreas
atingidas nos últimos dois anos.
O Tietê voltou a inundar e até um
peixe foi encontrado no túnel Tribunal de Justiça submerso, coroando com humor negro o desgoverno
da nossa Veneza improvisada.
Manutenção adequada, investimentos estratégicos, planejamento
urbano -as providências de curto,
médio e longo prazos são conhecidas pelas autoridades. Nos próximos meses, porém, o tamanho e a
gravidade do problema tendem a
ser progressivamente esquecidos.
Até que dezembro venha de novo
mostrar que não é mais possível
tratar as enchentes como um trauma de verão, que vem e passa.
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