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FERNANDO CANZIAN
Nem Lula
nem FHC
AO LONGO da última década,
a média do valor dos investimentos em infraestrutura
patrocinados pelo governo federal
(sem contar as estatais) correspondeu a menos de 1% do PIB (Produto Interno Bruto).
Apesar do PAC e de toda a conversa sobre o país estar se transformando em um "canteiro de obras",
sob Lula o governo central investiu
nos últimos quatro anos praticamente a mesma coisa (sempre como proporção do PIB) do que Fernando Henrique Cardoso em seu
segundo mandato.
O mérito de Lula foi ter mantido
ou adotado políticas que aceleraram o crescimento. Assim, o "bolo"
(PIB) ficou bem maior do que nos
anos FHC. Isso se traduziu em volume maior de investimentos.
Lula também foi hábil em empacotar no PAC grandes parcelas de
investimentos privados. O resultado é que hoje eles oferecem uma
impressão de grandeza e de um Estado atuante para o principal programa de sua ministra-candidata,
Dilma Rousseff.
Apesar do investimento público
federal estagnado, nessa mesma
década a despesa total do governo
federal cresceu a uma velocidade
maior do que a do PIB. Como sempre, o gasto maior foi coberto por
um aumento da carga tributária sobre empresas e indivíduos.
A política de aumento real para o
salário mínimo (que tem impacto
direto sobre as contas da Previdência) e o Bolsa Família abocanharam cerca de dois terços dessa despesa maior -que, como dito, não se
traduziu em aumento dos investimentos do setor público em obras.
Eram frequentes no primeiro
mandato de Lula as críticas neoliberais ao Bolsa Família (o "bolsa
esmola") e à política agressiva de
correção real do salário mínimo.
Diziam que as duas ações estourariam as contas públicas e que teriam pouco efeito do ponto de vista
do crescimento. As premissas se
provaram equivocadas.
Foi graças a esses dois vetores,
mais a continuidade da estabilização macroeconômica, que o Brasil
ingressa hoje em seu período mais
promissor em décadas.
A capilaridade do Bolsa Família
e o alcance do salário mínimo
(também pela via de pensões
do INSS) criaram uma nova dinâmica, tanto no consumo das famílias como nos investimentos das
empresas.
Hoje elas investem, gerando milhões de novos empregos, visando
aumentar a oferta de produtos para essa mesma massa emergente,
de novos e velhos assalariados e
aposentados e de beneficiários do
Bolsa Família.
Mas o grande nó a desatar no
próximo governo é aumentar o investimento estatal para combater
os gargalos de logística e o chamado "custo Brasil" sem elevar de novo a já indecente carga tributária.
Isso nem FHC ou Lula fizeram.
FERNANDO CANZIAN é repórter especial. Hoje,
excepcionalmente, não é publicado o artigo de Marcos
Nobre.
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