São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2010

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FERNANDO CANZIAN

Nem Lula nem FHC

AO LONGO da última década, a média do valor dos investimentos em infraestrutura patrocinados pelo governo federal (sem contar as estatais) correspondeu a menos de 1% do PIB (Produto Interno Bruto).
Apesar do PAC e de toda a conversa sobre o país estar se transformando em um "canteiro de obras", sob Lula o governo central investiu nos últimos quatro anos praticamente a mesma coisa (sempre como proporção do PIB) do que Fernando Henrique Cardoso em seu segundo mandato.
O mérito de Lula foi ter mantido ou adotado políticas que aceleraram o crescimento. Assim, o "bolo" (PIB) ficou bem maior do que nos anos FHC. Isso se traduziu em volume maior de investimentos.
Lula também foi hábil em empacotar no PAC grandes parcelas de investimentos privados. O resultado é que hoje eles oferecem uma impressão de grandeza e de um Estado atuante para o principal programa de sua ministra-candidata, Dilma Rousseff.
Apesar do investimento público federal estagnado, nessa mesma década a despesa total do governo federal cresceu a uma velocidade maior do que a do PIB. Como sempre, o gasto maior foi coberto por um aumento da carga tributária sobre empresas e indivíduos.
A política de aumento real para o salário mínimo (que tem impacto direto sobre as contas da Previdência) e o Bolsa Família abocanharam cerca de dois terços dessa despesa maior -que, como dito, não se traduziu em aumento dos investimentos do setor público em obras.
Eram frequentes no primeiro mandato de Lula as críticas neoliberais ao Bolsa Família (o "bolsa esmola") e à política agressiva de correção real do salário mínimo.
Diziam que as duas ações estourariam as contas públicas e que teriam pouco efeito do ponto de vista do crescimento. As premissas se provaram equivocadas.
Foi graças a esses dois vetores, mais a continuidade da estabilização macroeconômica, que o Brasil ingressa hoje em seu período mais promissor em décadas.
A capilaridade do Bolsa Família e o alcance do salário mínimo (também pela via de pensões do INSS) criaram uma nova dinâmica, tanto no consumo das famílias como nos investimentos das empresas.
Hoje elas investem, gerando milhões de novos empregos, visando aumentar a oferta de produtos para essa mesma massa emergente, de novos e velhos assalariados e aposentados e de beneficiários do Bolsa Família.
Mas o grande nó a desatar no próximo governo é aumentar o investimento estatal para combater os gargalos de logística e o chamado "custo Brasil" sem elevar de novo a já indecente carga tributária. Isso nem FHC ou Lula fizeram.


FERNANDO CANZIAN é repórter especial. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Marcos Nobre.


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