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CARLOS HEITOR CONY
Garrote vil
RIO DE JANEIRO - Estranham que a
esquerda nacional -e a de outros
países- não tenha desancado o regime de Fidel Castro, que pisou na bola, real e inutilmente. No poder há 42
anos, vencendo obstáculos dramáticos e de forma heróica, ele poderia
dispensar manifestações de força, justificáveis na eclosão de um processo
revolucionário, mas desumanas após
tantas décadas de "revolução vitoriosa".
Cuba é hoje um fato consumado
em termos históricos. Foi o único país
do hemisfério que implantou o comunismo com tudo de bom e de mau
que o regime produz e sustenta. A falta de liberdade é, sem dúvida, a sua
principal mácula, e algumas de suas
prioridades podem e devem ser discutidas e condenadas.
A educação básica, a saúde de primeiro combate, a conscientização de
uma soberania -tão rara na América Latina- são pontos favoráveis ao
regime de Fidel Castro. Ele próprio
mudou com o tempo e com o poder,
tornou-se um dos maiores protagonistas do século 20, recebeu o papa
com dignidade, aceitou conversar
com Carter, tem absoluta razão
quando se queixa do estúpido boicote
que sofre há anos do "mundo livre",
liderado pelos Estados Unidos.
Por tudo isso, não se justifica esse
passo atrás na direção errada, mandando fuzilar adversários. Lembro
um episódio dos últimos anos do ditador Franco, na Espanha. Um dissidente foi condenado ao garrote vil.
Uma onda de protestos tomou conta
do mundo -o papa, a ONU, a maioria do prêmios Nobel, todos pediam
misericórdia ao ditador.
Franco, embora católico praticante,
chegando mesmo a ser carola, respondeu ao papa: "É uma questão de
princípio". E mandou executar o dissidente.
É uma pena que Fidel tenha imitado, à sua maneira, o ditador espanhol. A Revolução Cubana, como fato histórico, merece estar acima da figura de seu chefe. O novo lema que
deve ser criado é: "Cuba, sim; terror
de Estado, não".
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