UOL




São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

As mazelas da Argentina

BRASÍLIA - O Museu de Belas Artes em Buenos Aires tem 19 esculturas de Rodin. Não há similar no Brasil. A entrada é gratuita.
Apesar do número incomum de pedintes, passear pelas ruas centrais da capital argentina ainda é agradável e muito seguro. Não há equivalente em cidades grandes brasileiras, como São Paulo ou Rio.
Mesmo com essas e outras inúmeras vantagens comparativas com o Brasil, o país vizinho apresenta uma fragilidade desconfortável nas suas instituições -algo bem evidente agora na campanha presidencial, cujo primeiro turno será realizado no domingo, dia 27. Eis alguns exemplos mais chocantes:
1) pesquisas eleitorais - não há legislação. Qualquer pessoa cria e divulga uma pesquisa sem restrição;
2) propaganda - não há regras. Quem tem dinheiro compra quanto tempo quiser nas TVs e nas rádios. O problema é passar um comercial no país inteiro. Não há redes nacionais. Um publicitário teve recentemente de gravar mais de 50 fitas de vídeo com o mesmo filmete para que a peça fosse exibida em todo o território por várias emissoras locais;
3) financiamento eleitoral - pela primeira vez na história do país o Estado obrigou, por lei, os candidatos presidenciais a divulgar os seus gastos de campanha e a origem dos fundos financeiros de seus partidos. Os cinco mais bem colocados nas pesquisas anunciaram uma receita total somada de 13 milhões de pesos (cerca de US$ 4,3 milhões). Uma piada;
4) regras frouxas - cada sigla lança quantos candidatos a presidente desejar. Os nomes só ficaram conhecidos do eleitorado há menos de dois meses da data do pleito.
Como se observa, a Argentina tem um caminho longo de reconstrução. Não é só a economia que está em frangalhos. O fim da ficção da paridade cambial revelou um grande entulho institucional guardado debaixo do tapete há décadas. O próximo presidente terá uma tarefa enorme para montar uma estrutura democrática minimamente aceitável.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: O debate sai do armário
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Garrote vil
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.