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FERNANDO RODRIGUES
As mazelas da Argentina
BRASÍLIA - O Museu de Belas Artes
em Buenos Aires tem 19 esculturas de
Rodin. Não há similar no Brasil. A
entrada é gratuita.
Apesar do número incomum de pedintes, passear pelas ruas centrais da
capital argentina ainda é agradável e
muito seguro. Não há equivalente em
cidades grandes brasileiras, como
São Paulo ou Rio.
Mesmo com essas e outras inúmeras vantagens comparativas com o
Brasil, o país vizinho apresenta uma
fragilidade desconfortável nas suas
instituições -algo bem evidente
agora na campanha presidencial, cujo primeiro turno será realizado no
domingo, dia 27. Eis alguns exemplos
mais chocantes:
1) pesquisas eleitorais - não há legislação. Qualquer pessoa cria e divulga uma pesquisa sem restrição;
2) propaganda - não há regras.
Quem tem dinheiro compra quanto
tempo quiser nas TVs e nas rádios. O
problema é passar um comercial no
país inteiro. Não há redes nacionais.
Um publicitário teve recentemente
de gravar mais de 50 fitas de vídeo
com o mesmo filmete para que a peça
fosse exibida em todo o território por
várias emissoras locais;
3) financiamento eleitoral - pela
primeira vez na história do país o Estado obrigou, por lei, os candidatos
presidenciais a divulgar os seus gastos de campanha e a origem dos fundos financeiros de seus partidos. Os
cinco mais bem colocados nas pesquisas anunciaram uma receita total
somada de 13 milhões de pesos (cerca
de US$ 4,3 milhões). Uma piada;
4) regras frouxas - cada sigla lança
quantos candidatos a presidente desejar. Os nomes só ficaram conhecidos do eleitorado há menos de dois
meses da data do pleito.
Como se observa, a Argentina tem
um caminho longo de reconstrução.
Não é só a economia que está em
frangalhos. O fim da ficção da paridade cambial revelou um grande entulho institucional guardado debaixo do tapete há décadas. O próximo
presidente terá uma tarefa enorme
para montar uma estrutura democrática minimamente aceitável.
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