São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2008

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MELCHIADES FILHO

As sandálias do ministro

BRASÍLIA - Patrus Ananias fez um dos movimentos mais intrigantes da política neste ano. Estivesse de fato interessado no governo de Minas, o ministro do Desenvolvimento Social não teria recolhido as asas. Disputaria Belo Horizonte e implodiria a aliança com o PSDB que praticamente sela o prefeito Fernando Pimentel como o nome petista à sucessão de Aécio Neves.
Das duas, uma. Ou Patrus se cansou, e vai preferir os confortos do Senado para encerrar a trajetória pública, ou decidiu se guardar para outra eleição, a mais importante.
O PT tem três opções para a Presidência -e só quem desconhece o PT acredita em uma quarta (aceitar ser vice de alguém). São elas: 1) carregar Dilma Rousseff até o fim; 2) criar um "fato novo" na última hora (Fernando Haddad?); 3) lançar mais adiante um candidato identificado com a história (e a máquina) do partido, mas capaz de fazer a ponte com a popularidade de Lula.
Patrus leva vantagem sobre Marta Suplicy e Tarso Genro, os outros credenciados a encabeçar esta última opção, mais "orgânica": foi ele quem pôs de pé o Bolsa Família.
É tolice descartar a força eleitoral do Bolsa Família só porque ela já foi empregada para reeleger Lula, em 2006. Os 11 milhões de famílias atendidas não sumiram. Seus títulos de eleitor continuam válidos.
Ademais, o programa receberá injeções de investimento: a extensão do benefício a jovens de 16 e 17 anos (eleitores...) e a formatação da primeira "porta de saída" oficial (contratação para obras do PAC).
Outra vantagem de Patrus é que ele oferece o melhor contraponto a Dilma. Se a sisudez e a cintura dura afundarem a pré-candidatura dela, será mais-do-que-natural o PT apelar para o ministro boa-praça de aspecto e hábitos franciscanos.
Na política, deve-se atentar para o que está colocado, mas nem sempre explícito. Por uma estratégia anti-Serra, o PT endossou o discurso antipaulista. Mas o presidente mineiro que o PT topa não é Aécio.


mfilho@folhasp.com.br

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