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MELCHIADES FILHO
As sandálias do ministro
BRASÍLIA - Patrus Ananias fez
um dos movimentos mais intrigantes da política neste ano. Estivesse
de fato interessado no governo de
Minas, o ministro do Desenvolvimento Social não teria recolhido as
asas. Disputaria Belo Horizonte e
implodiria a aliança com o PSDB
que praticamente sela o prefeito
Fernando Pimentel como o nome
petista à sucessão de Aécio Neves.
Das duas, uma. Ou Patrus se cansou, e vai preferir os confortos do
Senado para encerrar a trajetória
pública, ou decidiu se guardar para
outra eleição, a mais importante.
O PT tem três opções para a Presidência -e só quem desconhece o
PT acredita em uma quarta (aceitar
ser vice de alguém). São elas: 1) carregar Dilma Rousseff até o fim; 2)
criar um "fato novo" na última hora
(Fernando Haddad?); 3) lançar
mais adiante um candidato identificado com a história (e a máquina)
do partido, mas capaz de fazer a
ponte com a popularidade de Lula.
Patrus leva vantagem sobre Marta Suplicy e Tarso Genro, os outros
credenciados a encabeçar esta última opção, mais "orgânica": foi ele
quem pôs de pé o Bolsa Família.
É tolice descartar a força eleitoral
do Bolsa Família só porque ela já foi
empregada para reeleger Lula, em
2006. Os 11 milhões de famílias
atendidas não sumiram. Seus títulos de eleitor continuam válidos.
Ademais, o programa receberá
injeções de investimento: a extensão do benefício a jovens de 16 e 17
anos (eleitores...) e a formatação da
primeira "porta de saída" oficial
(contratação para obras do PAC).
Outra vantagem de Patrus é que
ele oferece o melhor contraponto a
Dilma. Se a sisudez e a cintura dura
afundarem a pré-candidatura dela,
será mais-do-que-natural o PT apelar para o ministro boa-praça de aspecto e hábitos franciscanos.
Na política, deve-se atentar para
o que está colocado, mas nem sempre explícito. Por uma estratégia
anti-Serra, o PT endossou o discurso antipaulista. Mas o presidente
mineiro que o PT topa não é Aécio.
mfilho@folhasp.com.br
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