São Paulo, sexta, 23 de maio de 1997.



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Os "spin doctors", de novo

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - A frase-síntese dos assessores governistas ontem sobre o discurso de FHC era a seguinte: "Foi ótimo, deu para recuperar o terreno".
É o tipo de comentário que os norte-americanos chamam de "spinning job" -trabalho de convencimento que os políticos fazem junto à mídia.
Quem faz o "spinning job" são os "spin doctors", expressão que já abriu esta coluna em junho do ano passado. Na época, o governo vendia a idéia de que o movimento dos sem-terra estava fora do controle dos seus líderes. Era uma avaliação errada.
Basta citar a marcha dos sem-terra a Brasília, que chamou a atenção, sobretudo, pelo seu alto grau de organização.
De toda forma, é inegável que o discurso de ontem de FHC teve o efeito positivo que o governo desejava. Foi o fato político do dia. Apareceu nos telejornais. O presidente demonstrou falar com emoção. Ele é bom nisso.
Só que FHC deixou dois trechos de seu discurso sujeitos a reflexões mais profundas. Algo além das frases dos "spin doctors" planaltinos.
Primeiro, afirmou que a venda de votos favoráveis à emenda da reeleição "deve ser investigada a fundo".
Note que FHC não pronunciou a sigla CPI. Ele é contra uma CPI. Acha que seria ruim. Diz, com certa razão, que isso paralisaria o Congresso.
FHC poderia ter dito: "Por enquanto, não considero uma CPI necessária". Mas não disse.
Prefere que os líderes aliados no Congresso carreguem o ônus dessa estratégia. E que eximam o Planalto.
A segunda passagem a ser notada do discurso do presidente foi a citação indireta ao "Senhor X". FHC disse que esse personagem não tem coragem de dizer "eu acuso".
Ora, aí há um deslize. O "Senhor X" nunca acusou ninguém. Fez perguntas. Quem confessou o crime e acusou foram os deputados. Aliás, revelaram também os nomes de quem teria providenciado o dinheiro.
Só que os "spin doctors" se recusam a enxergar tudo isso. Tudo bem. Faz parte do jogo. Assim é a política.



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