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Os "spin doctors", de novo
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - A frase-síntese dos assessores governistas ontem sobre o discurso
de FHC era a seguinte: "Foi ótimo,
deu para recuperar o terreno".
É o tipo de comentário que os norte-americanos chamam de "spinning
job" -trabalho de convencimento
que os políticos fazem junto à mídia.
Quem faz o "spinning job" são os
"spin doctors", expressão que já abriu
esta coluna em junho do ano passado.
Na época, o governo vendia a idéia de
que o movimento dos sem-terra estava
fora do controle dos seus líderes. Era
uma avaliação errada.
Basta citar a marcha dos sem-terra a
Brasília, que chamou a atenção, sobretudo, pelo seu alto grau de organização.
De toda forma, é inegável que o discurso de ontem de FHC teve o efeito
positivo que o governo desejava. Foi o
fato político do dia. Apareceu nos telejornais. O presidente demonstrou falar com emoção. Ele é bom nisso.
Só que FHC deixou dois trechos de
seu discurso sujeitos a reflexões mais
profundas. Algo além das frases dos
"spin doctors" planaltinos.
Primeiro, afirmou que a venda de
votos favoráveis à emenda da reeleição "deve ser investigada a fundo".
Note que FHC não pronunciou a sigla CPI. Ele é contra uma CPI. Acha
que seria ruim. Diz, com certa razão,
que isso paralisaria o Congresso.
FHC poderia ter dito: "Por enquanto, não considero uma CPI necessária". Mas não disse.
Prefere que os líderes aliados no
Congresso carreguem o ônus dessa estratégia. E que eximam o Planalto.
A segunda passagem a ser notada do
discurso do presidente foi a citação indireta ao "Senhor X". FHC disse que
esse personagem não tem coragem de
dizer "eu acuso".
Ora, aí há um deslize. O "Senhor X"
nunca acusou ninguém. Fez perguntas. Quem confessou o crime e acusou
foram os deputados. Aliás, revelaram
também os nomes de quem teria providenciado o dinheiro.
Só que os "spin doctors" se recusam
a enxergar tudo isso. Tudo bem. Faz
parte do jogo. Assim é a política.
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