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DEMANDA LEGÍTIMA
O Banco Central (BC) decidiu
manter a taxa de juros básica
inalterada, no elevado nível de 18,5%
ao ano, até 19 de junho. Em vista de
recentes declarações cautelosas de
seus diretores, a decisão do BC não
chegou a surpreender. Mas, da ótica
da atividade produtiva, ela decepcionou, pois tende a sancionar a piora
das expectativas quanto à expansão
da economia.
Alguns louvarão a atitude do BC
por sinalizar forte compromisso
com o cumprimento da meta de inflação. De fato, a inflação oficial acumulada no período de 12 meses findo em abril foi de 8%, bem acima,
portanto, da meta oficial, que é de limitá-la a 3,5% em 2002.
Mas essa meta é bastante questionável. Ela foi fixada em 2000, quando
se vivia a ilusão de que a transição para o regime de câmbio flutuante reduzira drasticamente a fragilidade
macroeconômica do país. Desde então ficou claro o quanto ainda é preciso caminhar para chegar a um crescimento sustentável. Ficou claro,
também, que a meta de inflação fixada para 2002 se tornou irrealista.
Como a inflação oficial foi de 7,7%
em 2001 e a indexação de preços, em
especial de serviços públicos, "transmite" parte dessa alta para 2002, limitar a inflação a 3,5% neste ano
quase certamente exigiria sacrificar
muito a atividade produtiva. Isso já
vinha sendo reconhecido, implicitamente, pelo BC, cujos diretores falavam em limitar a inflação de 2002 à
faixa de 4,5% a 5%, mantendo pequena "margem de segurança" ante
o limite de 5,5%.
A decisão de ontem revela a preocupação de impedir que essa flexibilização corroa a credibilidade da política de metas de inflação. Um pequeno corte dos juros poderia realmente
aumentar um pouco o risco (que ainda parece limitado) de ultrapassar o
limite superior da meta.
É certo, no entanto, que o crescimento da economia foi em alguma
medida prejudicado pela decisão.
Diante disso, haverá quem elogie o
BC por ter revelado "impermeabilidade a pressões políticas". Mas não é
legítimo que a sociedade exija, além
da relativa estabilidade de preços,
também um mínimo de dinamismo
da economia?
Não que essa demanda deva ser dirigida ao BC: o governo como um todo é o destinatário. O BC e as metas
de inflação são apenas peças de um
modelo. Um modelo que tem sido
eficaz contra a inflação, mas pouco
eficaz em prol da produção.
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