São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Os "inafastáveis" limites da crítica
PEDRO PARENTE
É preciso lembrar que liderei um grupo com mais de uma centena de funcionários públicos com exemplar dedicação no período da crise. Eles superaram obstáculos e prejudicaram sua vida pessoal; tudo para que a crise tivesse o menor custo possível para a sociedade. Para mim e para todos esses funcionários, honra não é coisa com que se brinque, ainda mais com tal facilidade e superficialidade e sem razão objetiva. Quanto à forma de minha resposta ao candidato Lula, os autores esqueceram-se de que, durante a discussão da medida provisória 14, oportunidade em que a carta do candidato foi enviada, o governo encontrava-se diante de crítica cerrada da oposição. Tal crítica baseava-se justamente no material preparado pelo prof. Sauer. Como já disse, tais alegações provocaram a mais intensa revolta na equipe de gestão da crise. Mas nossas restrições não foram apenas por ter o candidato Lula utilizado o material do prof. Sauer para subsidiar sua correspondência. Foi também pelo fato de que não há registro nos protocolos da Presidência da República de que tenha escrito muitas cartas ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Na realidade, não há registro de nenhuma outra correspondência. Será que a energia emergencial e o acordo geral do setor foram o único tema que merecesse tal cuidado do candidato? Além disso, por que a carta não foi escrita logo após a edição da MP 14, em dezembro de 2001, mas tão-somente no auge de sua discussão na Câmara, quatro meses depois? Dizem ainda os autores do artigo que é dever do administrador público cuidar dos interesses do país, acima dos interesses de grandes grupos econômicos. Aqui concordamos em gênero, número e grau. No entanto cumprir esse dever é tão mais difícil quanto compreender que se deve fazê-lo mirando o interesse de longo prazo, e não o caminho fácil da demagogia de curto prazo. No longo prazo, interessa ao país e é indispensável para os consumidores a existência de distribuidoras saudáveis, que possam prestar serviços com qualidade, a preços justos, e que tenham condições de investir. Esse foi o caminho que seguimos, em vez de obter dividendos políticos simplesmente aderindo à tese do "ferro nas distribuidoras". Esse tema cai como uma luva para exemplificar e justificar o questionamento a respeito da coerência entre o discurso e a prática dos candidatos de oposição. Qual será o PT que irá prevalecer? O que se apresenta, de forma responsável e legítima, em reuniões nas quais representantes do partido defenderam interesses de agentes e investidores no setor elétrico? Ou o que, por sua ação no Congresso Nacional e por meio de outras iniciativas públicas, tal como a carta do candidato Lula ao presidente da República, desvela sinais de que, na realidade, ainda não abandonou crenças e práticas do passado? Pedro Parente, 49, engenheiro eletrônico, é ministro-chefe da Casa Civil. Foi o coordenador da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Arnaldo Jardim: Que se cumpra a Lei das Queimadas Índice |
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