São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Que se cumpra a Lei das Queimadas
ARNALDO JARDIM
Discordo dessa proposição do governo pelas seguintes razões: A proposta do governo acelera a mecanização em 55% (área passível de mecanização), além de forçar a erradicação dos outros 45% (área não-mecanizável) dos 2,3 milhões de hectares destinados ao plantio de cana-de-açúcar no Estado, acelerando o desemprego. Apenas nesta safra, com a proposta do governo, seriam mais de 10 mil empregos diretos ceifados, só com a eliminação do uso do fogo em 25% das áreas mecanizáveis; Quem conhece minimamente a cultura da cana-de-açúcar sabe que é impossível colher mecanicamente uma área plantada para a colheita manual, devido à enorme diferença de "design" entre um e outro sistema de produção. Posto isto, é importante lembrar que a cana é uma cultura de ciclo longo (cinco anos) e a cada ano é apenas possível renovar uma parcela do canavial, sendo tecnicamente inviável atender às exigências do projeto de lei do governo; A eliminação do uso do fogo na área agrícola precisa ser feita de forma monitorada e gradativa, para evitar a incidência indiscriminada de erosões e proliferação de pragas como a cigarrinha. O fato é que o governo insiste em mexer numa lei que busca disciplinar e estabelecer um cronograma de erradicação do uso do fogo, garantindo os limites tecnológicos e de realocação da mão-de-obra. Uma lei que preserva o emprego dos trabalhadores e garante o acesso à atividade aos pequenos e médios agricultores, num trabalho conectado com a realidade do Brasil agrícola, atendendo às necessidades de preservação do meio ambiente de maneira muito mais efetiva do que proibições verticais, que jogam para a platéia mas não resolvem o problema. Infelizmente, os burocratas do governo não entendem que a eliminação das queimadas só pode ser obtida pelo amadurecimento dos agentes econômicos e sociais envolvidos. Este é o grande mérito da lei de minha autoria. Em vez de atirar no pé de uma das principais atividades econômicas do Estado, a hora é de saudar os diferenciais positivos que este setor confere ao Brasil: sequestra mais de 42 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera; acaba de ver credenciada para créditos de carbono a Usina Vale do Rosário, de Morro Agudo, graças a projeto de co-geração de energia elétrica a partir do bagaço de cana; é um dos grandes responsáveis pela nossa matriz de energia limpa; tem um programa de utilização de álcool combustível em larga escala elogiado e copiado por diversos países do mundo. Estou empenhado na discussão do projeto de lei do governo. Acho até que há possibilidade de aprimoramento da legislação atual. Mas, antes de tudo, é preciso que o Executivo cumpra a lei. Arnaldo Jardim, 47, engenheiro civil, deputado estadual pelo PPS-SP, é coordenador da Frente Parlamentar pela Energia Limpa e Renovável. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Pedro Parente: Os "inafastáveis" limites da crítica Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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