São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2006

Próximo Texto | Índice

Solavanco nas finanças

A SEGUNDA-FEIRA foi de forte turbulência dos mercados financeiros. As Bolsas de todo o mundo operaram em queda -na Índia, o mecanismo automático de interrupção do pregão teve de ser acionado. No Brasil, a Bovespa caiu 3,28% e o dólar fechou a R$ 2,29 (alta de 4%); os juros futuros e o risco-país subiram.


Ainda não se pode dizer que estejamos diante de tendência pessimista; persiste a abundância de recursos nos mercados


Ainda não é possível afirmar que esteja consolidada uma tendência pessimista. Permanecem ativas as principais fontes de liquidez global. A abundância de recursos nos mercados financeiros internacionais nos últimos quatro anos tem origem nas políticas de contenção das pressões deflacionistas que ameaçavam a economia mundial após a desvalorização das ações de tecnologia em março de 2000 e os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Funda-se também nos superávits em conta corrente dos países em desenvolvimento e dos exportadores de petróleo.
As políticas fiscal e monetária lassas nos principais mercados globais favoreceram uma inflação de ativos. Com a queda das taxas de juros -1% nos EUA, zero no Japão e 2% na Europa- ações, títulos de dívidas, commodities e moedas dos países emergentes tiveram seus preços inflados. Essa valorização dos ativos financeiros foi fomentada pela expansão do crédito barato. Confiantes na valorização de sua riqueza, os consumidores ampliaram suas dívidas e seus gastos, o que acelerou a demanda. As empresas reagiram às expectativas de lucros crescentes e aumentaram seus investimentos, realimentando o ciclo de alta.
Desde o início de 2006, os principais bancos centrais emitiram sinais de que elevariam os juros para conter o aquecimento da atividade e o aumento dos preços. Porém a reunião do Fed (BC americano) do fim de abril gerou sinais contraditórias sobre os seus próximos passos. Tais incertezas sobre o futuro aumentaram a aversão ao risco. Em etapas sucessivas, investidores reduziram suas aplicações mais arriscadas e se refugiaram nos títulos do Tesouro dos EUA e em moedas fortes.
A primeira onda atingiu moedas dos países com elevados déficits em conta corrente e com valorização imobiliária, como Austrália, Nova Zelândia, Hungria e Turquia. A segunda alcançou o mercado de ações e de títulos no mundo todo, e o dólar se desvalorizou diante do euro e do iene. A terceira onda, a de ontem, afetou os mercados de commodities, derrubando as cotações de metais e produtos agrícolas. As moedas dos países exportadores dessas mercadorias sofreram fortes desvalorizações.
Está em curso um movimento mundial de ajuste de preços. Ele se dá em um ambiente altamente instável, e a qualidade do monitoramento das autoridades monetárias -sobretudo das americanas- decidirá o seu desfecho. Que valha a lição do ex-presidente do Fed Alan Greenspan: o elevado estoque de ativos financeiros globais não recomenda mudanças bruscas nas taxas de juros, dado o potencial disruptivo dos agentes interligados.


Próximo Texto: Editoriais: Fronteiras confusas

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.