|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
O vasto faroeste
RIO DE JANEIRO - Se você quiser
ficar mal informado sobre o Brasil,
converse comigo. Ou com qualquer
brasileiro que tenha passado alguns
dias fora. Nestas duas semanas em
que estive viajando, as únicas referências sobre o país nos jornais e
TVs locais em que dei uma espiada
se referiram à visita do papa. Mas o
papa não vale, a notícia era ele.
A ausência conspícua do Brasil
no noticiário internacional deixa
mal nossos governantes, o atual e
seu antecessor. Durante anos, encheram-nos os ouvidos de que o
mundo já não podia passar sem eles
e, em decorrência, sem nós. Só acreditou quem quis.
O Brasil gera pouca informação
de interesse para a mídia estrangeira. E não estou falando dos jornais e
TVs de Abdjan, Islamabad ou Adis
Abeba, mas das cidades por onde
andei e que nos tocam tão de perto,
como Lisboa, o Porto e Madri. Nem
o nosso futebol, de cujos cobras e
minhocas eles se abastecem avidamente, merece espaço em suas pautas e programações.
Mas nem tudo está perdido. Se a
imprensa estrangeira tem mais
com o que se ocupar, o canal brasileiro a que se assiste no exterior pela TV paga -antes era a Globo; agora é a Record- se encarrega de suprir o mundo com as últimas sobre
o Brasil. Foi por ele que fiquei sabendo dos tiroteios na Vila Cruzeiro, no Rio, e do quebra-quebra na
praça da Sé, da chacina dos sete jovens no bairro do Jaraguá e dos seqüestros em São Paulo.
Pelo visto, nos 15 dias em que estive longe, o Brasil foi um vasto faroeste, e não aconteceu nada que
não envolvesse assaltos, sustos,
pancadarias, fuzis cuspindo fogo e
inocentes ameaçados.
Ao chegar, descobri aliviado que
não foi bem assim. Tivemos também o gol mil de Romário, a descoberta por Lula de que cerveja contém álcool e mais um escândalo
brabo em Brasília. Notícia é mato.
Texto Anterior: Boston - Fernando Rodrigues: Os dois tipos de político Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: PAC: há progresso Índice
|