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Cortesia de palanque
Afagos entre adversários nos comícios do PAC obedecem à lógica de um momento peculiar na economia e na política
A FAVELA de Heliópolis,
na zona sul de São Paulo, presenciou um momento de elegância política na última terça-feira. Por
ocasião de mais um lançamento
de obras do PAC, reuniram-se no
mesmo palanque o presidente
Lula, o governador José Serra, o
prefeito Gilberto Kassab e a ministra Marta Suplicy.
O ambiente primou pela camaradagem. Kassab, do DEM, agradeceu ao petista Lula e ao tucano
Serra, sublinhando seu próprio
empenho em dar continuidade à
gestão da petista Marta Suplicy.
Lula reconheceu ser adversário
político de Serra, mas ressaltou a
importância da parceria administrativa. O governador foi além
ao dizer que há convergências
nas posições dos governos estadual, municipal e federal no que
tange ao problema das favelas.
Nada melhor, com efeito, do
que ver em prática a parceria entre representantes de correntes
políticas diversas quando está
em jogo a realização de obras
voltadas para o conjunto da população. Mas a racionalidade administrativa conta menos, neste
episódio, do que as velhas artimanhas da política.
Interessa ao governo Lula revestir o PAC de caráter suprapartidário, ainda que o programa
dê ocasião a uma óbvia seqüência de comícios para o petismo
em todos os cantos do país.
No quadro paulistano, o congraçamento teve o efeito de isolar a candidatura de Geraldo
Alckmin. O pretendente tucano
à prefeitura aparece nas pesquisas como adversário mais forte
do que Kassab na disputa com
Marta Suplicy; a estes dois últimos, convém uma provisória
conjunção de forças.
Intrigas deste tipo, mais próximas de um "reality show" do que
de uma disputa ideológica consistente, são ainda assim um aspecto menor do fenômeno estrutural em curso. Há algumas décadas não se verificava a disponibilidade de recursos para obras
públicas que, atualmente, os níveis de crescimento econômico
(moderados) e de arrecadação
(altíssimos) podem propiciar.
Ocorre, nas diversas instâncias
do Poder Executivo, um pouco o
inverso daquela situação cristalizada no adágio popular, segundo
o qual "em casa onde falta o pão,
todos brigam e ninguém tem razão". Um ameno e sorridente
partido -o Partido das Obras
Públicas- compõe num mesmo
palanque administradores dos
mais diversos partidos, enquanto no Legislativo as infindáveis
rusgas entre governo e oposição
parecem descolar-se da realidade eleitoral concreta.
No comício de Heliópolis, deu-se um breve entrevero. O vereador Agnaldo Timóteo (PR) exigia
ser admitido no palanque das autoridades. Lula interveio em seu
favor. Há lugar para todos; e, enquanto jorrarem as torneiras,
não há ideologia que resista.
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