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NELSON MOTTA
Loura dura vê a coisa preta
RIO DE JANEIRO - Vai longe o
tempo em que John Lennon e Yoko
Ono cantavam "Woman Is the Nigger of the World". Era uma dupla
ousadia: "nigger" é um palavrão tão
ofensivo para os afro-americanos
que, mesmo quando indispensável,
jornais e TVs não ousam dizê-lo e o
substituem por "the "N" word".
Para Lennon, em 1972, as mulheres eram os seres mais oprimidos
do mundo. Hoje, uma mulher e um
negro disputam a Presidência americana, com boas chances de chegar
lá. Condoleezza Rice é a segunda
pessoa mais poderosa dos Estados
Unidos. E certamente não está distante o dia em que um(a) gay disputará a confiança, o respeito e as esperanças dos eleitores americanos.
Hillary, a loura dura, é mais mandona, autoritária e viril do que a
maioria dos homens. Pelo menos
bem mais do que o suave e envolvente Bill Clinton. Assim como ela,
muitas executivas americanas, nas
guerras corporativas, reproduzem e
ampliam os defeitos que denunciavam nos homens: dureza, frieza, intolerância, autoritarismo, competitividade sem limites, o trabalho como prioridade máxima, o amor ao
poder e ao lucro. São mais temidas
do que os machões.
As feministas furiosas assustaram os moderados, e a maioria dos
democratas percebeu que, mulher
ou homem, não queria mais uma
cobra criada de Washington, de nariz empinado e dedo em riste. Preferiam um novato com o carisma, a
fala mansa e as vagas idéias de mudança de Obama, sem se importar
com a cor da pele. Não por raça nem
por sexo: uma questão de estilo.
Mas os maiores oprimidos da
Terra, dizia Paulo Francis, são sempre as crianças. De todas as classes
sociais e etnias, são elas que mais
sofrem com a violência, a intolerância e o autoritarismo dos adultos. E
crescem preparadas para oprimir
os outros.
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