São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Espelho do mundo

Num ambiente em mudança, jornal se renova para garantir maior espaço de debate público e estimular cidadania

Dedicados a acompanhar o dia a dia de um mundo em contínua e rápida evolução, é natural que os jornais também mudem. Isso é ainda mais verdadeiro quando se trata de um jornal como este, que procura cultivar a autorrenovação periódica como postulado.
Em meio às mudanças, é oportuno ressaltar o que permanece. Antes de tudo, uma preocupação sistemática de servir ao leitor e ao interesse público.
Octavio Frias de Oliveira, que liderou o crescimento da Folha durante mais de quatro décadas, foi dos primeiros a entender a autonomia editorial de um periódico como decorrência da autonomia econômica da empresa que o produz. Bom jornalismo é bom para os negócios e útil para o país.
Com o tempo, consolidou-se aqui a prática de um jornalismo crítico, voltado a problematizar, questionar e fiscalizar num diapasão apartidário, ou seja, desengajado em relação ao governo de turno e às facções que disputam o poder político, econômico, cultural.
Ao mesmo tempo, firmou-se um padrão inédito de pluralidade de visões, expresso num elenco extenso e variado de colunistas, mas presente, também, no noticiário, onde o empenho de publicar todas as versões sobre um mesmo fato se tornou regra, nem sempre seguida a contento.
A fim de compensar os riscos, em que todo jornalismo incorre, de cometer injustiças, criaram-se mecanismos de autocontrole bem antes que esse debate viesse a ser travado no Brasil.
Um manual de redação dado a público, a fim de permitir ao leitor e aos personagens do noticiário cobrar compromissos assumidos. Um profissional de alto nível -o ombudsman- remunerado exclusivamente para submeter a própria Folha à crítica sistemática e pública. Uma sessão diária de retificações. O compromisso de publicar as contestações recebidas.
Até agora, o leitor e o anunciante -os dois pilares da livre circulação de informações e ideias- têm recompensado os esforços.
A expansão dos meios digitais atinge diretamente as comunicações e afeta o jornalismo. Como toda revolução tecnológica, a digital acena com riscos e oportunidades, vantagens e perdas. A disseminação das informações e do livre acesso a elas só pode ser saudada, não apenas como avanço democrático, mas como conquista cultural da humanidade.
Por outro lado, configura-se uma sociedade cada vez mais atomizada, dispersa por uma infinidade de interesses particulares que se reúnem, de forma passageira, nas unanimidades fugazes geradas pela própria mídia. Como previu Alexis de Tocqueville, o espaço público, a arena de debate dos interesses comuns, pode ser tanto vítima quanto beneficiária da democratização conforme esta se aprofunda.
Quando se fala sobre a função do jornal no futuro, não se pode omitir sua natural aptidão para estimular e garantir um mínimo de espaço público assim definido. Uma alavanca para o exercício mais completo da cidadania política e econômica. Um local de debate das soluções para os problemas coletivos. Um espelho do mundo que permita às pessoas vislumbrar o que têm em comum.


Próximo Texto: Editoriais: Farra esportiva

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.