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Editoriais
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Espelho do mundo
Num ambiente em mudança, jornal se renova para garantir maior
espaço de debate público
e estimular cidadania
Dedicados a acompanhar o dia
a dia de um mundo em contínua e
rápida evolução, é natural que os
jornais também mudem. Isso é
ainda mais verdadeiro quando se
trata de um jornal como este, que
procura cultivar a autorrenovação
periódica como postulado.
Em meio às mudanças, é oportuno ressaltar o que permanece.
Antes de tudo, uma preocupação
sistemática de servir ao leitor e ao
interesse público.
Octavio Frias de Oliveira, que liderou o crescimento da Folha durante mais de quatro décadas, foi
dos primeiros a entender a autonomia editorial de um periódico
como decorrência da autonomia
econômica da empresa que o produz. Bom jornalismo é bom para
os negócios e útil para o país.
Com o tempo, consolidou-se
aqui a prática de um jornalismo
crítico, voltado a problematizar,
questionar e fiscalizar num diapasão apartidário, ou seja, desengajado em relação ao governo de turno e às facções que disputam o poder político, econômico, cultural.
Ao mesmo tempo, firmou-se um
padrão inédito de pluralidade de
visões, expresso num elenco extenso e variado de colunistas, mas
presente, também, no noticiário,
onde o empenho de publicar todas as versões sobre um mesmo
fato se tornou regra, nem sempre
seguida a contento.
A fim de compensar os riscos,
em que todo jornalismo incorre,
de cometer injustiças, criaram-se
mecanismos de autocontrole bem
antes que esse debate viesse a ser
travado no Brasil.
Um manual de redação dado a
público, a fim de permitir ao leitor
e aos personagens do noticiário
cobrar compromissos assumidos.
Um profissional de alto nível -o
ombudsman- remunerado exclusivamente para submeter a
própria Folha à crítica sistemática
e pública. Uma sessão diária de retificações. O compromisso de publicar as contestações recebidas.
Até agora, o leitor e o anunciante -os dois pilares da livre circulação de informações e ideias- têm
recompensado os esforços.
A expansão dos meios digitais
atinge diretamente as comunicações e afeta o jornalismo. Como toda revolução tecnológica, a digital
acena com riscos e oportunidades, vantagens e perdas. A disseminação das informações e do livre acesso a elas só pode ser saudada, não apenas como avanço
democrático, mas como conquista
cultural da humanidade.
Por outro lado, configura-se
uma sociedade cada vez mais atomizada, dispersa por uma infinidade de interesses particulares
que se reúnem, de forma passageira, nas unanimidades fugazes
geradas pela própria mídia. Como
previu Alexis de Tocqueville, o espaço público, a arena de debate
dos interesses comuns, pode ser
tanto vítima quanto beneficiária
da democratização conforme esta
se aprofunda.
Quando se fala sobre a função
do jornal no futuro, não se pode
omitir sua natural aptidão para estimular e garantir um mínimo de
espaço público assim definido.
Uma alavanca para o exercício
mais completo da cidadania política e econômica. Um local de debate das soluções para os problemas coletivos. Um espelho do
mundo que permita às pessoas
vislumbrar o que têm em comum.
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