São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A difícil administração do ambiente

De um modo geral, as discussões sobre a proteção do ambiente têm gerado mais calor do que luz. O tema possui uma dimensão técnica e outra política. A política tem prevalecido sobre a técnica. Daí porque os debates têm sido de pouca utilidade para a sociedade -embora de enorme valia para quem manipula um problema real para projetar imagens irreais.
Estou lendo com muito vagar o livro organizado por Jonathan H. Adler, "Ecology, Liberty and Property", publicado pelo Competitive Enterprise Institute, New York, 2000. É uma obra de grande densidade de dados, de idéias e de propostas.
O equacionamento dos problemas ambientais é muito mais complexo do que aderir ou não ao Protocolo de Kyoto ou contribuir com as ONGs que organizam passeatas de protesto contra quem polui a natureza.
Visto ser impossível eliminar de imediato todas as formas de poluição, pergunta-se: Qual delas é prioritária? Será que a medida que ocupa o primeiro lugar nos Estados Unidos ocupará a mesma posição na África, na América do Sul, na Ásia, na Oceania ou no planeta como um todo?
É claro que não. Para os africanos, por exemplo, o mais urgente é acabar com as epidemias, com a erosão dos solos e com a contaminação da água. Para os americanos, a urgência recai sobre a eliminação dos resíduos químicos, em especial os das partículas de carbono, e dos vazamentos de petróleo e sobre a conservação da camada de ozônio.
Se há essa enorme diferença, quem tem razão? Todos. Cada continente, nação ou região possui fundadas razões para priorizar essa ou aquela dimensão.
Se assim é, quem vai decidir em que despender os recursos para conservar a natureza? Vamos voltar ao planejamento centralizado? Será que uma comissão multinacional de especialistas resolverá o problema? E se partirmos para um plebiscito para cada tema? E quando surgirem novos focos de poluição, iremos repetir o processo? Isso é viável? Já há alguma experiência piloto bem-sucedida?
Temos de ser francos. Os seres humanos sabem como sujar a natureza, mas ainda não têm o menor desejo de limpá-la com equidade e racionalidade. É muito fácil fazer marolas demagógicas e explorar a ingenuidade dos que acreditam no desgastado refrão da "vontade política".
Os problemas ambientais são sérios demais para serem politizados ou tratados com slogans baratos que atingem em cheio a emoção e passam longe da razão. A planificação centralizada foi um dos maiores fracassos da humanidade. Não conseguiu sequer desenvolver umas poucas nações que se abrigaram na cidadela da Cortina de Ferro. Os dados mostram que, em relação ao lado ocidental, a ex-Alemanha Oriental gastava mais do triplo de energia para a mesma unidade de PIB. A Coréia do Norte consome 70% a mais do que a Coréia do Sul em termos de energia per capita. A planificação centralizada não estimula os cidadãos a criar novas formas de energia e de preservação da natureza.
Mas os Estados Unidos também foram levados a adotar soluções distorcidas ao aprovar de forma apressada leis federais sobre o controle das águas, da chuva ácida, da poluição sonora, da camada de ozônio etc. Essas leis exigiram uma enormidade de recursos, cujo retorno é comprovadamente negativo. Esse será o tema do meu próximo artigo.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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