São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2008

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Lacuna no BNDES

Novas fontes para financiamento de longo prazo são cruciais para continuar expandindo capacidade produtiva

O ATUAL ciclo de expansão dos investimentos -12 trimestres consecutivos- pressiona a principal fonte de financiamentos de longo prazo do país, o BNDES. Vem se ampliando o descompasso entre a oferta e a demanda de recursos da instituição, a despeito do enorme crescimento nas concessões de crédito: de R$ 37,4 bilhões em 2002 para R$ 64,9 bilhões em 2007.
Os empréstimos aprovados têm sido maiores do que os desembolsos. O hiato de recursos aumentou de R$ 7,5 bilhões em 2005, para R$ 23 bilhões em 2006 e R$ 34 bilhões em 2007. Estima-se que esse patamar deverá repetir-se neste ano.
Para administrar a crescente escassez de recursos, o banco adotou uma política seletiva de financiamentos. No âmbito dessa estratégia de racionalização das verbas disponíveis, decidiu cortar em 10 a 20 pontos percentuais os limite de participação da instituição no valor dos investimentos em diversos setores.
O BNDES passará a financiar 100% dos projetos apenas se estiverem relacionados com inovação tecnológica, micro, pequena e média empresa e para solucionar gargalos ferroviários nas regiões Norte e Nordeste. Já para bens de capital, o limite de participação do banco caiu de 100% para 80% por projeto. Para o setor agropecuário, que inclui o sucroalcooleiro, a redução foi de 80% para 60%. Para geração de energia, a cota, que chegava a 85%, diminuiu para 80%. Para transmissão, caiu de 80% para 70%. A distribuição de energia manteve seus 60%.
O BNDES vem realizando também esforços para ampliar suas fontes de recursos. Já captou US$ 1 bilhão no exterior e anunciou uma emissão de debêntures para obter R$ 6 bilhões. Poderá ainda vender parte de sua carteira de ações para reforçar a capacidade de financiamento.
Esses dados revelam que, a despeito dos lançamentos de ações e de debêntures na Bovespa, acompanhando o ciclo de liquidez internacional, persiste o desafio de se ampliar o financiamento de longo prazo em moeda nacional. Os grandes bancos privados expandiram os empréstimos para pessoas físicas, crédito consignado e ao consumo, com taxas de juros muito elevadas. Mas financiaram relativamente pouco a atividade produtiva, por meio de operações de capital de giro e de leasing.
Dessa forma, em um cenário de manutenção do dinamismo econômico e expansão dos investimentos, torna-se relevante estimular instrumentos domésticos de financiamento de longo prazo, tais como os Fundos de Direito Creditórios (Fdics) e outros mecanismos de securitização. Os fundos de pensão, as seguradoras e o sistema de previdência complementar podem auxiliar o desenvolvimento desses mercados, ampliando os recursos disponíveis.
Enfim, a cooperação entre as diversas instituições e os instrumentos públicos e privados de poupança de longo prazo em moeda nacional são cruciais para garantir o crescimento sustentado da produção e do emprego.


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