São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2008

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Incentivo diplomático

NUM GESTO bem calculado, os 27 países que compõem a União Européia (UE) decidiram levantar definitivamente as sanções diplomáticas que o bloco mantinha contra Cuba. O impacto da medida é mais simbólico do que prático, dado que as restrições, adotadas em 2003 após a prisão de 75 dissidentes por Havana, estavam suspensas desde 2005. Mas é muito em torno de simbolismos que se dá a disputa sobre os rumos do regime cubano.
Nesse contexto, a UE faz muito bem em premiar o novo dirigente da ilha, Raúl Castro, pelas reformas liberalizantes que vem promovendo desde que substituiu o irmão, Fidel, no comando do país quatro meses atrás.
Muitas das novas regras introduzidas por Raúl têm caráter apenas simbólico, como é o caso da autorização para que cubanos comprem computadores, aparelhos de DVD, fornos de microondas e celulares ou que se hospedem em hotéis de luxo. Mas há também medidas claramente pró-mercado, como a eliminação de tetos salariais para incentivar a produtividade e a introdução da livre iniciativa no campo. Agricultores privados podem agora plantar o que quiserem e arrendar terras públicas. Estima-se que 51% do território agrícola do país esteja ocioso.
Mesmo na esfera política houve avanços importantes, como a assinatura de duas convenções de direitos humanos da ONU, a soltura de alguns dissidentes e o afrouxamento parcial de restrições a viagens internacionais.
A decisão européia vem, portanto, em boa hora. Não se trata, como acusa o governo norte-americano, de legitimar o regime ditatorial cubano, mas de mostrar ao novo dirigente qual a rota que ele deve adotar para reintegrar o país à comunidade internacional. Essa parece ser a melhor forma de promover a transição cubana no menor tempo possível e com menos custos políticos e sociais.


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