|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Greves
Um dos mais complexos
problemas brasileiros é a desarticulação da administração
pública produzida nos últimos 25 anos.
Em nome de "ondas" de revoluções modernizadoras que
"aperfeiçoariam" e "melhorariam" a qualidade dos serviços, construiu-se uma confusão monumental. A inquietação dos servidores mais modestos é desesperadora. Os
mais bem situados buscam
apenas encontrar alguma suspeita de "isonomia" para ampliar o enorme e crescente descolamento entre o valor atual
da remuneração do setor público em relação à do privado.
Não conseguimos aprovar
nem sequer uma lei que regulamente o direito de greve do
funcionalismo. Não se trata de
coibir a liberdade de reivindicar ou de manifestar-se. Trata-se de fazer respeitar os direitos
dos cidadãos.
É preciso respeitar os direitos dos cidadãos e respeitar os
direitos dos grevistas, mas é
preciso impor-lhes um "custo" pelos inconvenientes que
a paralisação dos serviços
causa à sociedade, principalmente quando promovidas
pelo peleguismo ideológico.
Que custo será esse? Um
ex-sindicalista bem-sucedido
ensinou: "Greve sem desconto
dos dias parados é uma féria
remunerada".
A ausência de legislação
impede a existência de mecanismo de arbitragem que solucione civilizadamente o problema. O desconto "sem choro
nem vela" dos dias parados
certamente é um "custo" que
criaria condições para soluções razoáveis e mais rápidas.
É preciso, por outro lado,
cobrar judicialmente dos sindicatos, responsáveis pela
greve, indenização pela destruição do patrimônio público, como ocorre agora na Universidade de São Paulo. Os
"bárbaros" têm consciência
de sua violência, tanto assim
que as praticam encapuzados!
Estamos diante do desinteresse do Legislativo e do laxismo do Executivo. A prova
mais cabal desse fato é o atual
processo de julgamento no
Supremo dos "quintos" e dos
"décimos" para os servidores
públicos comissionados nos
três Poderes.
O problema começou no governo Collor e foi confirmado
no governo Itamar. Na octaetéride de FHC, o governo mudou de opinião cinco vezes,
até transformá-lo, em 1997,
em vantagem pessoal nominalmente identificada (VPNI).
O Tribunal de Contas da
União mudou de opinião em
2003! Por isso, a Advocacia-Geral da União (AGU), em dezembro de 2005 (o assunto
vem rolando desde 1990!),
contestou a decisão do TCU no
Supremo Tribunal Federal.
Por um aparente erro de instrumento da própria AGU, a
União corre agora o risco de
ter que engolir um "esqueleto" de R$ 10 bilhões!
Tem razão o culto e competente ministro Malan quando
diz que, "no Brasil, até o passado é incerto"...
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@uol.com.br
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Plínio Fraga: Alice e o submundo Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES Francisco de Oliveira, Paulo Arantes, Luiz Martins e J. Souto Maior: Por uma universidade pública Índice
|