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PLÍNIO FRAGA
Alice e o submundo
RIO DE JANEIRO - Está no ar uma
campanha do governo federal que
diz: "Estamos vivendo um novo
Brasil. Feito por você. Respeitado
pelo mundo". Como se vê, informação essencial ao contribuinte, desde que este seja Alice de volta do
submundo ao país das maravilhas.
O R$ 1,2 bilhão que Lula despendeu com propaganda tem também
papel relevante na estratosférica
avaliação positiva do presidente e
na sua capacidade de transferência
de votos para Dilma Rousseff. Claro
que propaganda não basta, mas os
gastos são assustadores; FHC desembolsou, em 2002, o equivalente
a R$ 470 milhões hoje.
Pesquisa do próprio governo
mostra que 59,1% dos brasileiros já
assistiram a propagandas do projeto de moradias "Minha Casa, Minha
Vida"; 44,8% viram inserções sobre políticas sociais; e 34,8%, a respeito de obras do PAC.
Estas mensagens ajudam a moldar o sentimento de que se vive um
"novo" Brasil e dão carona ao discurso de que Lula precisa de Dilma
para a continuação do projeto. Os
adversários não têm nada parecido
para contrapor, tornando a disputa
desigual. São, como diria o antigo
PT, um estelionato eleitoral.
Querer que a disputa se desenrole hoje como se fosse decidida em
praça pública, na retórica da política como resultado médio do entendimento sobre o que é o bem comum, é uma ingenuidade. Certo.
Mas a falta de propostas arrebatadoras por parte dos atuais pré-candidatos é um desestímulo à participação dos eleitores no processo,
fazendo com que a campanha se limite a um gerenciamento de imagens, feito quase essencialmente
por meio da televisão.
Existem elementos subterrâneos
que maravilham muitos no marketing - como se fossem Alice a confundir "underland" e "wonderland"-, mas que exercem papel
desvirtuador na escolha final dos
eleitores.
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