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Raposas e bodes
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Com a diferença de
pouquíssimos meses, o governo empossa cidadãos em cargos importantes
e três dias após aceita a demissão deles. Alguma coisa está errada, não
com os demitidos, que em apenas três
dias nem tiveram tempo para praticar
qualquer desatino.
O erro é do governo fragilizado pela
mediocridade pessoal do presidente
da República, que se acha irresistível
porque deixa as coisas rolarem. Apesar de cumprir seu segundo mandato,
não aprendeu a dirigir a sua equipe.
Acha mais confortável ser dirigido por
ela.
Os episódios vividos por Chico Lopes
e João Batista Campelo não foram
idênticos, mas análogos. Deixaram a
nu a tibieza do presidente em governar. E até mesmo a sua leviandade.
Impossível que ele não soubesse do
dinheiro que Chico Lopes havia mandado para o exterior por intermédio
de um amigo. A remessa poderia até
ser justificável -caberá a Chico Lopes
prová-la como legal.
Impossível também que não soubesse da existência de um processo de
1970 que denunciava a tortura de presos políticos que estavam sob a custódia de Campelo.
Os grupos que se engalfinham nas
entranhas do Planalto se encarregariam de divulgar esses lances da biografia dos indicados para o Banco
Central e para a Polícia Federal.
Poder-se-ia desculpar FHC se houvesse ingenuidade presidencial diante
das raposas que o rodeiam. Mas não
houve ingenuidade. Houve esperteza.
O presidente também se considera
uma raposa, uma raposa mais esperta
do que as outras.
Nomeou Chico Lopes e Campelo porque estava pressionado pelos grupos
que o apóiam. Queria dar a impressão
de que não recebia pressões e, paradoxalmente, sentia-se confortável porque estava sendo pressionado. Se as
nomeações dessem bode, poderia jogar
a culpa nos outros.
Os bodes podem invocar a condição
de expiatórios. E o bode da vez poderá
ser uma raposa fatigada de não dar
certo.
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