São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A previsibilidade da pré-campanha
CESAR MAIA
Mas chegou derrapando e trocando votos na prevista ascensão de Ciro. Deixou de ter o quase monopólio da oposição e caiu para nuvens mais baixas: saiu de algo como 40% das intenções de voto para cerca de 33%. Este, diriam, é seu teto dos últimos anos. Mas há uma diferença: ele cedeu votos de quem se diz oposição a FHC e ganhou votos difusos, mais voláteis. Errou na mão, pois entraram em seu território eleitoral. Ciro tem uma característica curiosa: nas pesquisas, o eleitor não é capaz de identificá-lo com propostas ou idéias. Seu eleitor olha para a telinha e acha que ele tem personalidade e autoridade. É um bom começo, mas a dinâmica desse processo dependerá do quanto a mídia e as candidaturas produzirem, antes de 20 de agosto, quando entra a programação eleitoral, aquilo que Kathleen Jamieson chama de cobertura de estratégia. Isso corresponde à fixação da mídia e dos candidatos nas pesquisas e a obrigatória "suíte" do por que cresceu e por que desceu. Quanto maior a "centimetragem" para este jogo, menos as pesquisas futuras anotarão tendências diferentes das atuais. Serra ocupou o equivalente à soma dos espaços dos candidatos da base do governo registrados um ano atrás. Sua imagem correu horizontalmente, afirmada em suas qualidades técnicas pessoais indiscutíveis. Curiosamente, até agora, a comunicação dessas idéias não chegou ao eleitor. Ficou apenas a percepção de ser um candidato do governo. Perto dele discute-se o quanto deve sinalizar a mudança e o quanto deve sinalizar a "continuidade ou o caos". Em relação à primeira hipótese, vem-me à cabeça a história de Garrincha conversando, no treino, com o técnico Gentil Cardoso: "O senhor já combinou com o adversário?". Os publicitários em geral e a mídia -sempre- não gostam da propaganda negativa, ou seja, de um candidato falar mal do outro. Mas isso é parte intrínseca dos processos eleitorais. O eleitor finge que não gosta, mas se informa muito mais com a propaganda negativa do que com a afirmativa. Neste sentido, tanto Lula quanto Serra querem ferir a imagem muda que Ciro passou nestes meses. Mas, como dizia Didi, treino é treino, jogo é jogo. Agora é jogo. O eleitor começa a ficar mais atento à mídia. Esta é a hora da cristalização e da descristalização. É a hora do jogo bruto. Neste momento, a vantagem está com quem cresce, porque aumenta a probabilidade de cristalização do voto. Por isso mesmo, quem cresce deve abrir o som da imagem. E quem não quer que este crescimento se cristalize -os demais candidatos- deve jogar contra a imagem mais do que contra as idéias. Pelo menos é o que está escrito nos livros de quem estuda, há anos, eleições nas universidades dos EUA. As pesquisas da primeira semana de agosto nos darão luzes quanto a isso. Cesar Maia, 57, economista, é prefeito, pelo PFL, do Rio de Janeiro. Foi prefeito da mesma cidade de 1993 a 96. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Candido Mendes: Padre Vaz e a pós-modernidade cristã Índice |
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