|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Opinião pessoal
RIO DE JANEIRO - Tenho ouvido muita gente sensata, isenta em relação à reforma da Previdência, dizer
que o governo está com a razão, mas
não soube passar à sociedade, convenientemente, a necessidade das medidas que propõe. Daí a confusão, o
bate-boca que tende a engrossar, sendo lembrada até mesmo a possibilidade de uma crise institucional, o
que seria o pior que nos poderia
acontecer.
Discordo dessa opinião sensata e
isenta, entre outras coisas, porque
não costumo ser sensato e, muito menos, isento. Através de seus membros,
seus líderes e afiliados, o governo já
explicou até a exaustão que a Previdência está falida e, por gravidade,
na base do arrastão, poderão falir em
futuro próximo não apenas a União,
mas os Estados e municípios. Já esfregou na cara dos privilegiados o enorme rombo que dão ao erário, com
aposentadorias e pensões de potentados das mil e uma noites.
Sinceramente, acho que os adversários do projeto estão carecas de saber
tudo isso. O problema é que são duas
questões que não podem ser resolvidas ao mesmo tempo e do mesmo
modo. O rombo da Previdência existe
porque os sucessivos governos foram
incapazes de moralizar a arrecadação e administrar corretamente o
que era arrecadado. Basta citar o caso das grandes empresas e pessoas jurídicas que devem fortunas à Previdência e nunca são cobradas de fato:
as dívidas são reescalonadas ao infinito ou mesmo esquecidas, quando
não perdoadas oficialmente.
E o mais importante para a insatisfação dos que se sentem prejudicados: a reforma pretendida fere o princípio do direito adquirido, que é um
direito realmente discutível. Mas fere
sobretudo o princípio fundamental
de qualquer direito, segundo o qual,
a lei não retroage.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Sinal de senilidade Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Lavoura da salvação Índice
|