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FERNANDO RODRIGUES
Sinal de senilidade
BRASÍLIA - Consolida-se a imagem
de que o presidente Lula obtém sucesso mais pelo que não faz do que por
ações concretas. Manteve a economia
tal qual a recebeu de FHC; o mercado
aplaudiu. Encaminhou as reformas
ao Congresso; o mundo inteiro parece reclamar.
O governo errou tudo o que poderia
na apresentação das reformas da
Previdência e tributária. Registre-se
por justiça que os equívocos não devem ser debitados só na conta dos líderes congressistas da base aliada. O
déficit do Planalto é maior.
O erro trágico inicial foi criar o
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, CDES ou "conselhão", como é conhecido. Nada contra ouvir a sociedade. Nada a favor
também da perda de tempo. O processo poderia ser simultâneo à apreciação das reformas pelo Congresso.
O tempo jogado pela janela com o
advento do "conselhão" é resumido
em uma frase ouvida no Congresso e
atribuída a Lula. Indagado sobre o
CDES, teria dito algo assim: "Vamos
parar de falar que logo todos vão esquecer esse assunto".
Esquecer, tudo bem. Voltar no tempo é outra coisa. Não dá. Lula entregou as propostas de reformas para o
Congresso em 30 de abril. Poderia ter
feito isso 60 dias antes, em 1º de março. Prazos seriam queimados antes.
Algumas corporações não teriam
tempo para organizar reações tão ferozes como a dos juízes.
É verdade que esse cenário adverso
é insuficiente para impedir a aprovação das reformas. O governo está forte. Parte da mídia televisiva alavanca a popularidade. O relatório da
Previdência deve ser aprovado nesta
semana na comissão especial. Ficará
a impressão de que o governo não fez
mais do que a obrigação. Se nem isso
acontecer, será outro pequeno fracasso da inexperiente base aliada.
Assim está o governo Lula. Quando
ganha algo no Congresso, fez o básico. Se erra na miudeza, sofreu uma
grande derrota. Um sinal de senilidade numa administração tão jovem.
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