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São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Sinal de senilidade

BRASÍLIA - Consolida-se a imagem de que o presidente Lula obtém sucesso mais pelo que não faz do que por ações concretas. Manteve a economia tal qual a recebeu de FHC; o mercado aplaudiu. Encaminhou as reformas ao Congresso; o mundo inteiro parece reclamar.
O governo errou tudo o que poderia na apresentação das reformas da Previdência e tributária. Registre-se por justiça que os equívocos não devem ser debitados só na conta dos líderes congressistas da base aliada. O déficit do Planalto é maior.
O erro trágico inicial foi criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, CDES ou "conselhão", como é conhecido. Nada contra ouvir a sociedade. Nada a favor também da perda de tempo. O processo poderia ser simultâneo à apreciação das reformas pelo Congresso.
O tempo jogado pela janela com o advento do "conselhão" é resumido em uma frase ouvida no Congresso e atribuída a Lula. Indagado sobre o CDES, teria dito algo assim: "Vamos parar de falar que logo todos vão esquecer esse assunto".
Esquecer, tudo bem. Voltar no tempo é outra coisa. Não dá. Lula entregou as propostas de reformas para o Congresso em 30 de abril. Poderia ter feito isso 60 dias antes, em 1º de março. Prazos seriam queimados antes. Algumas corporações não teriam tempo para organizar reações tão ferozes como a dos juízes.
É verdade que esse cenário adverso é insuficiente para impedir a aprovação das reformas. O governo está forte. Parte da mídia televisiva alavanca a popularidade. O relatório da Previdência deve ser aprovado nesta semana na comissão especial. Ficará a impressão de que o governo não fez mais do que a obrigação. Se nem isso acontecer, será outro pequeno fracasso da inexperiente base aliada.
Assim está o governo Lula. Quando ganha algo no Congresso, fez o básico. Se erra na miudeza, sofreu uma grande derrota. Um sinal de senilidade numa administração tão jovem.


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