São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

Próximo Texto | Índice

A PRISÃO DOS JUROS

Como era esperado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) manteve inalterada a taxa básica de juros em 16% ao ano. Diante das elevações de preços verificadas na cadeia industrial, influenciadas pelo aumento das cotações do petróleo e de algumas commodities, o BC mantém-se em atitude cautelosa, temendo efeitos inflacionários danosos. As projeções do mercado sugerem que a inflação deste ano ficará mais próxima do limite superior da meta (8%) do que de seu centro (5,5%) e já causam apreensões quanto ao cumprimento do objetivo recentemente confirmado para o ano que vem, de 4,5%, com margem de 2,5 pontos percentuais.
Nesse cenário, o BC vê-se condenado ao imobilismo. Ainda que seu padrão de comportamento pudesse sugerir um aumento dos juros para tentar conter a alta de preços, essa decisão parece, ao menos por ora, inviável, sob risco de se produzirem novos problemas no mundo político e econômico. Ao mesmo tempo, cortar a taxa num quadro de pressões inflacionárias seria uma demonstração de incoerência. O BC, então, espera. E o faz numa situação que poderia estar melhor, não fossem erros cometidos no passado.
Lamentavelmente, pensando-se no futuro, as perspectivas da política monetária não são animadoras: na opinião de alguns analistas não é improvável uma alta da taxa básica no ano que vem, a depender de alguns fatores, como o ritmo do aumento dos juros nos Estados Unidos.
O fato é que mais uma vez a taxa de juros estaciona em nível elevado, com reflexos negativos não apenas na dinâmica da retomada do crescimento, mas também no endividamento público. O Tesouro Nacional divulgou números que mostram um aumento, em apenas 30 dias, de cerca de R$ 10 bilhões na dívida interna em títulos do governo federal. De maio para junho, o endividamento subiu de R$ 748,38 bilhões para R$ 758,19 bilhões. Segundo o Tesouro, 50,62% dos título em circulação são corrigidos pela taxa básica de juros.
É uma situação difícil, que pode colocar por terra o esforço fiscal do governo e impedir que a relação entre a dívida e o PIB diminua, como tanto querem as autoridades econômicas.


Próximo Texto: Editoriais: REVOLTA NA FEBEM
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.