|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
A sedução do babaísmo
SÃO PAULO - Heloísa Helena caiu
nas graças de uma parcela do que o
governador Cláudio Lembo gosta
de chamar de "elite branca". O Datafolha a mostrou roçando os 20%
das intenções de voto entre os eleitores com nível superior das regiões
Sul e Sudeste. No eleitorado feminino, a senadora do PSOL dobrou
seus votos -atingindo 12% no país.
Não é difícil imaginar a jovem estudante de história da USP como o
tipo ideal da conversão babaísta. A
maioria pobre por ora não liga muito para o que diz a senadora, sobretudo no Nordeste, de onde ela vem.
Isso não a faz nem melhor nem
pior que o "chuchu" e o "abobrinha". Mas ajuda a explicá-la. O que
representa a candidata do PSOL?
Ela é uma cria política do governo
Lula. Ele é a mãe que gestou a filha
rebelde, mas é também o padrasto
que a expulsou de casa sem piedade.
Reúnem-se no babaísmo a restrição tanto política quanto rancorosa
ao governo Lula e a repulsa moral à
conduta do seu partido. Afinal, desmentindo o que disse Delúbio, provou-se que o PT se rende e se vende.
Heloísa Helena, porém, não é Lula em 1980. Por mais talentoso que
seja César Benjamin, o vice-ideólogo do PSOL, da revolta babaísta não
resultará nenhuma alternativa de
poder -faltam-lhe base social e
chão histórico, para falar em jargão.
Heloísa Helena é uma radical livre, uma versão espevitada de
Eduardo Suplicy. Parece, como o
senador petista, uma pregadora voluntarista a serviço de si mesma.
Sua presença no cenário eleitoral
pode ter o mérito de alargar o campo das discussões. Mas corre o risco
de resultar só num incremento do
besteirol socialista, agravado por
posições regressivas a respeito de
questões como a descriminalização
do aborto. As tiradas verbais de Heloísa Helena são mais divertidas do
que seu fundamentalismo.
O babaísmo dificilmente sobreviverá às eleições. Mas de sua breve e
ruidosa existência talvez dependa a
realização do sonho do senador
Bornhausen. Talvez esteja aí o programa real de Heloísa Helena.
Texto Anterior: Editoriais: Ciência em alta Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O fator HH Índice
|