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CLÓVIS ROSSI
De alfinetes e ameaças
SÃO PAULO - Um minuto depois
de jurar que jamais colocaria "um
alfinete para atrapalhar uma investigação" [do Ministério Público], o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
jogou um caminhão inteiro de mísseis, não de alfinetes, no caminho
dos procuradores.
Disse o presidente, na posse do
procurador-geral da República:
"Um dia vai aparecer alguém que
vai achar que vocês são demais e vai
propor mudanças no Congresso
Nacional. Sabemos que a mudança
nunca será por mais liberdade e sim
por mais castramento".
Lula sabe perfeitamente que o
Congresso Nacional está discutindo limites à atuação dos procuradores, ou seja, que já apareceu alguém
que quer "castrar" esse pessoal que,
descontados alguns abusos, tem
sido de extraordinária valia para
a República.
A frase de Lula roça até na ameaça, ainda mais que ela está claramente vinculada à descabelada tese
segundo a qual nem todos são
iguais perante a lei, posto que um
político como José Sarney não pode
ser tratado como "pessoa comum".
Ante os procuradores, Lula insistiu nessa rematada tolice, ao dizer
que o investigador "tem que pensar
não apenas na biografia de quem
está investigando, mas na de quem
também está sendo investigado" (a
reprodução é literal de uma frase algo pedregosa).
Não, presidente, quem tem que
pensar na biografia é o próprio biografado, que não pode cometer crimes, trambiques ou imoralidades.
É correto, presidente, o investigador inocentar um assassino só porque, nos 50 anos anteriores, sua
biografia era exemplar?
A insistência nesse despautério
fez um ouvinte da CBN enviar mail
à emissora ontem suspeitando que
Lula está, na verdade, impetrando
um habeas corpus preventivo para
a sua própria biografia quando deixar o Palácio do Planalto. Homens
públicos pagam o preço pelo que fazem e também pelo que dizem.
crossi@uol.com.br
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