São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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CRÉDITO CURTO

A crise cambial em que o Brasil está imerso tem um ingrediente peculiar. Trata-se do fato de que também está em retração a oferta de créditos externos de curto prazo -que vencem em menos de um ano e financiam o comércio exterior.
Pode parecer um detalhe, mas não é. Reverter esse processo é crucial. Quanto maior e mais rápido o sucesso nesse esforço, maiores as chances de o país superar a atual escassez de dólares sem sequelas mais graves.
O corte do crédito externo de curto prazo é um fenômeno atípico. Tão atípico que as avaliações acerca do volume de dólares que o país precisa atrair para fechar suas contas externas não costumam levar em conta a hipótese de que a dívida de curto prazo não seja integralmente renovada.
Mas, hoje, analisar as perspectivas das contas externas sem levar em conta a retração do crédito de curto prazo pode levar a conclusões frágeis. Especificamente, os créditos recentemente concedidos pelo FMI, pelo Banco Mundial e pelo BID podem parecer suficientes para garantir a "travessia" do final de 2002 e boa margem de manobra em 2003. Se, porém, o crédito de curto prazo continuar em retração, essa conclusão confortadora pode não se viabilizar.
O grosso do crédito de curto prazo é ofertado por um número reduzido de grandes bancos internacionais. É com eles que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, se reunirão na próxima semana, visando convencê-los a retomar suas linhas de crédito ao Brasil.
Os negociadores brasileiros enfrentarão um problema delicado de coordenação, pois cada banco relutará em mudar de atitude se não estiver convencido de que seus concorrentes farão o mesmo. Por isso parece imprescindível o engajamento das autoridades bancárias dos países ricos na discussão. Até porque a retração dos bancos privados se deveu em parte a decisões dessas autoridades, que em má hora endureceram os critérios de classificação do risco dos empréstimos concedidos a economias emergentes.


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