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São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Violência e terror, até quando?

Estamos consternados diante da sequência de atentados terroristas, cada vez mais frequentes. Multiplicam-se os atos de violência, ceifando vidas e gerando um ambiente de insegurança e medo.
As recentes e brutais explosões em Jerusalém e na sede da ONU no Iraque, que atingiram inocentes no cumprimento do dever humanitário, deixam-nos tristes e perplexos. Desejo expressar minha homenagem respeitosa às vítimas do atentado e, em especial, à pessoa exemplar do alto comissário Sérgio Vieira de Mello, promotor e mártir da paz.
Não há lógica nos atos terroristas nem é, portanto, previsível o que possa suceder. São anos de conflitos sangrentos na Terra Santa e de atentados de grupos radicais em vários países. Até quando?
Não há resposta fácil para essa pergunta. São muitos os fatores em ação. No entanto precisamos procurar, o quanto antes, debelar o mal do terrorismo em suas raízes.
Na análise do ato terrorista, emerge a falta de confiança na ordem estabelecida e nos meios legais para a solução de problemas gravíssimos. Há, assim, um elemento de desespero nos que constatam que as portas estão fechadas para recursos pacíficos. Recorrem, então, a medidas extremas e absurdas sem respeitar o direito à vida de inocentes. Essa atitude de desespero diante da inexistência de soluções pacíficas requer que a sociedade reconheça a própria responsabilidade pelo atraso inexplicável em oferecer reposta às urgentes exigências de grupos e povos. Questões inadiáveis permanecem sem saída, como a territorialidade da nação palestina e a liberdade de decisão política dos próprios caminhos para o Afeganistão e para o Iraque.
Ninguém pode aprovar o recurso à violência que caracteriza os atos terroristas. São injustificáveis. Mas, por outro lado, por que retardar até a exacerbação o encaminhamento de soluções justas?
É necessário que os organismos internacionais, capazes de arbitrar os conflitos entre povos e nações, sejam fortalecidos e apoiados por todos os países de modo a poderem, com eficácia e rapidez, evitar guerras e injustiças sociais, bem como manter viva a esperança de soluções pacíficas. Não sendo assim, é quase impossível conter a tentação do ato terrorista, revestido até de idealismo por parte dos que imolam suas vidas a serviço de uma causa.
Para os que temos fé em Deus, é o momento de intensificarmos as preces, pedindo a proteção divina a fim de pautarmos nossos atos pelas exigências éticas de pleno respeito à dignidade da pessoa humana. Temos, a todo custo, de continuar promovendo a justiça e a paz e superar, assim, os desatinos do uso da violência.
A lição vale também para nós. Há situações urgentes em nosso país que requerem esforços maiores do governo e da sociedade para encontrar soluções adequadas e pacíficas sem delongas. Refiro-me à miséria e à fome de milhões de brasileiros, à violência do uso de armas, ao tráfico de drogas e ao atraso na reforma agrária.
Por que tardar em assentar famílias que há anos aguardam um atendimento humanitário? Zelar pela paz social exige que medidas justas sejam, de fato e o quanto antes, aplicadas de modo a salvaguardar os direitos fundamentais da pessoa e evitar o descontrole e o recurso a métodos violentos . A esperança se fortalece com gestos concretos de justiça e de solidariedade.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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