São Paulo, terça-feira, 23 de agosto de 2005

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A DEFESA DE PALOCCI

Atingido pelas declarações de seu ex-assessor Rogério Buratti, que o acusou de receber e transferir para o PT propinas de empresas de coleta de lixo quando prefeito de Ribeirão Preto, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, assumiu uma atitude bastante diferente daquela que vem sendo adotada por alguns de seus correligionários suspeitos de corrupção.
Embora tenha se queixado da maneira açodada com que as declarações de Buratti foram transmitidas à imprensa, no que não deixa de ter alguma razão, o ministro não procurou fomentar surradas teorias conspiratórias nem isentar o PT dos erros e desvios que cometeu.
Ao apresentar-se para uma entrevista coletiva, aceitando ser inquirido por jornalistas durante longo tempo, o ministro fez o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem procurado evitar. Talvez Palocci possua algumas virtudes que não coincidem com as do presidente: não parece ver na mídia um inimigo, é articulado e dificilmente cede à exaltação, conseguindo imprimir uma linha de racionalidade a seus discursos.
Infelizmente, os elogios que o presidente dirigiu à performance de seu colaborador da área econômica -"mostrou tranqüilidade e segurança"- não poderiam servir para ele próprio, que, até aqui, além dos acalentados improvisos para audiências encomendadas, se limitou a um oblíquo pronunciamento.
Palocci transmitiu credibilidade em sua autodefesa e demonstrou maturidade ao analisar o quadro de crise que abala o país. Foram acertadas as suas avaliações de que a gestão da economia brasileira pode prescindir de sua presença no ministério e de que, mantidas as diretrizes básicas de responsabilidade fiscal e respeito aos contratos, não há motivos para temer maiores turbulências.
Não é possível considerar, todavia, que as declarações do ministro tenham encerrado o caso. A dinâmica da crise tem sido pródiga em surpresas, e o denunciante ainda irá prestar depoimento à CPI. Novos elementos podem, em tese, surgir.


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