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Nova oportunidade
Com sanguessugas, Congresso tem mais uma chance de frear desgaste em sua imagem após absolvições do mensalão
DA PRIMEIRA vez, a renúncia não foi uma
boa estratégia: os deputados que se desligaram do cargo para evitar a cassação teriam grande chance de ser
absolvidos. Dos 19 parlamentares processados por envolvimento no mensalão, apenas três perderam o mandato.
O cálculo parece ter pesado entre os sanguessugas e demais envolvidos na máfia das ambulâncias. Dos 72 parlamentares acusados, apenas dois optaram pelo
desligamento voluntário. Todos
os outros -67 deputados e três
senadores- preferiram enfrentar o processo. Depende apenas
do Congresso corrigir o prumo e
evitar que a leniência se repita.
São abundantes as provas para
justificar o afastamento da maior
parte dos acusados de adicionar
emendas ao orçamento em troca
de propina. Recibos, assinaturas,
notas fiscais, contratos -é vasta
a galeria de indícios apurada pela
CPI. A expressão está desgastada, mas é a que melhor reflete a
situação: sem "cortar na própria
carne", o Congresso não terá como esboçar uma reação à gravíssima crise de legitimidade em
que submergiu.
O prognóstico não é otimista.
O ano eleitoral turva prioridades, paralisa votações importantes e reduz sensivelmente a presença dos parlamentares em
Brasília. Nesse período que antecede às eleições, qualquer avanço no andamento dos processos
é digno de comemoração.
A manutenção do voto secreto
nas sessões em plenário apenas
piora o quadro: sem que fique
pública a opinião e o voto de deputados e senadores a respeito
dos pares acusados, segue favorável o cenário para as absolvições. Deve-se também a esse dispositivo o desfecho decepcionante das últimas CPIs.
A repercussão de um corte em
larga escala será decerto menor
na próxima legislatura. Ainda
que os processos continuem em
andamento, só os deputados capazes de se reeleger correrão o
risco de perder o mandato. Como os partidos não se mexem para negar legenda aos envolvidos
em acusações, todo o esforço deve se concentrar no curtíssimo
prazo: a rapidez, nesse caso, é
mais um ingrediente a contar a
favor da imagem do Congresso.
O papel do Ministério Público,
da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União não é secundário. Da ação coordenada
entre essas instâncias depende a
seqüência das investigações e a
reunião de provas consistentes
para enviar à Justiça. O caso é
vultoso: envolve cerca de 600
prefeituras e diversas entidades
privadas, cujo papel no esquema
ainda está para ser esclarecido.
A condenação em âmbito político, traduzida na cassação do
mandato dos envolvidos, é, porém, uma prioridade. Trata-se de
uma sanção de forte poder simbólico: é a principal arma ao alcance do Congresso para recuperar sua credibilidade.
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