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Maus sinais
EXISTEM bons motivos para
recear que a trégua estabelecida no Líbano não seja o
prelúdio de uma paz justa, mas
um intervalo entre duas guerras.
É verdade que o cessar-fogo,
descontadas algumas violações
isoladas, está sendo mantido e
que as Nações Unidas preparam
o envio de uma força de paz de 15
mil homens bem treinados.
Não se percebem, entretanto,
movimentações, seja no front
militar, seja no diplomático, que
possam pôr um fim à situação
que deflagrou o conflito: a existência do Hizbollah como uma
milícia armada e que lança ataques a Israel à revelia do governo
libanês, do qual é integrante na
condição de partido político.
É improvável que as tropas da
força de paz se arrisquem para
desarmar a milícia xiita, muito
embora seja esse o propósito da
missão da ONU. Um cenário menos irrealista seria os libaneses
se darem conta de que os interesses do Hizbollah afrontam o Estado libanês e exigirem que a milícia deponha armas. Na hipótese
de recusar-se a fazê-lo, caberia
ao Exército libanês implementar
"manu militari" a decisão.
Ocorre, no entanto, que o Hizbollah é uma força mais preparada do que o Exército, e na sociedade libanesa ainda não há consenso em relação ao desarmamento do grupo. Ao menos um
terço dos libaneses são xiitas
identificados com o Hizbollah.
Boa parte dos dois terços restantes passou a apoiar a milícia após
os ataques israelenses.
A melhor solução seria acionar
a diplomacia para convencer a
Síria a renunciar a sua aliança
circunstancial com o Hizbollah.
Sem apoio de Damasco, a milícia
não teria como seguir armando-se. O ditador Bashir al Assad poderia ser atraído para o grupo
dos Estados árabes moderados
em troca da devolução das colinas do Golã, conquistadas por Israel em 1967, e de uma melhor
relação com os EUA.
A dificuldade, nesse terreno, é
que tanto Washington como Tel
Aviv não se mostram dispostas
ao diálogo. A persistir esse quadro, é uma questão de tempo para a retomada do conflito.
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