São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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Maus sinais

EXISTEM bons motivos para recear que a trégua estabelecida no Líbano não seja o prelúdio de uma paz justa, mas um intervalo entre duas guerras.
É verdade que o cessar-fogo, descontadas algumas violações isoladas, está sendo mantido e que as Nações Unidas preparam o envio de uma força de paz de 15 mil homens bem treinados.
Não se percebem, entretanto, movimentações, seja no front militar, seja no diplomático, que possam pôr um fim à situação que deflagrou o conflito: a existência do Hizbollah como uma milícia armada e que lança ataques a Israel à revelia do governo libanês, do qual é integrante na condição de partido político.
É improvável que as tropas da força de paz se arrisquem para desarmar a milícia xiita, muito embora seja esse o propósito da missão da ONU. Um cenário menos irrealista seria os libaneses se darem conta de que os interesses do Hizbollah afrontam o Estado libanês e exigirem que a milícia deponha armas. Na hipótese de recusar-se a fazê-lo, caberia ao Exército libanês implementar "manu militari" a decisão.
Ocorre, no entanto, que o Hizbollah é uma força mais preparada do que o Exército, e na sociedade libanesa ainda não há consenso em relação ao desarmamento do grupo. Ao menos um terço dos libaneses são xiitas identificados com o Hizbollah. Boa parte dos dois terços restantes passou a apoiar a milícia após os ataques israelenses.
A melhor solução seria acionar a diplomacia para convencer a Síria a renunciar a sua aliança circunstancial com o Hizbollah. Sem apoio de Damasco, a milícia não teria como seguir armando-se. O ditador Bashir al Assad poderia ser atraído para o grupo dos Estados árabes moderados em troca da devolução das colinas do Golã, conquistadas por Israel em 1967, e de uma melhor relação com os EUA.
A dificuldade, nesse terreno, é que tanto Washington como Tel Aviv não se mostram dispostas ao diálogo. A persistir esse quadro, é uma questão de tempo para a retomada do conflito.


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