São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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ANTONIO DELFIM NETTO

Previsões eleitorais

O RESULTADO de qualquer corrida eleitoral é imprevisível. Ela nunca se dá num espaço euclidiano, sem rios, sem montanhas, sem buracos negros ou outros obstáculos mortais, mas, sim, numa geometria absolutamente estranha, em que tudo pode acontecer. Não importa a quantidade de pesquisa, a sua qualidade e a convergência dos resultados. Nada está garantido. Trata-se de um processo aleatório complexo, no qual o vôo descuidado de uma borboleta no Rio Grande do Sul pode produzir uma enchente no Rio Grande do Norte. Nada obstante, as cuidadosas análises estatísticas e políticas de Alexandre Marinis, da assessoria Mosáico, revelam que existem algumas relações probabilísticas que sugerem em que condições o ganhador no primeiro turno pode ser levado à vitória no segundo. Mas não há nada certo: o resultado é tão previsível quanto a evolução do tempo para períodos maiores do que 30 dias... O fato de Luiz Inácio Lula da Silva estar em primeiro lugar nas pesquisas, e de que até agora todas parecem garantir-lhe a vitória já no primeiro turno, está longe de resolver a questão eleitoral. Estamos ainda no início da campanha televisiva, que, por sua abrangência, contundência e virulência, pode ter o mesmo efeito do "delicado vôo da borboleta". Há, entretanto, alguns fatos que favorecem o poder incumbente. O primeiro deles é a tragédia deixada como herança para a história do Brasil pela octaetéride fernandista: a reeleição sem desincompatibilização! Até as inexistentes esquinas de Brasília sabem que esta foi obtida por métodos tão condenáveis como aqueles que hoje horrorizam a nação. A grande diferença é que hoje, pelo menos, estão sendo apurados pelas CPIs do Congresso Nacional. As mesmas que foram interditadas no passado... O segundo fato, e não menos importante, é que Lula cumpriu boa parte das promessas da "Carta aos Brasileiros", que foi o programa com o qual se elegeu: 1) combate à pobreza e 2) política econômica sensata. O PT nunca entendeu (e Lula demorou a entender) que não foi o partido que elegeu o presidente, mas que foi ele, Lula, que elegeu o partido! Acreditando que as promessas de Lula eram para "inglês ver", o PT ignorou a sua obstinação e atrapalhou a administração. O Brasil termina 2006 numa situação econômica muito superior à de 2002 e, principalmente, com os primeiros sinais críveis de redução da pobreza. Talvez seja isso que justifique os resultados das pesquisas.

dep.delfimnetto@camara.gov.br


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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